São Paulo, 22 de abril de 2015– O Comitê para a Proteção dos Jornalistas (CPJ) condena a perseguição de jornalistas que noticiam sobre corrupção no estado do Paraná e insta as autoridades a garantir sua segurança. Um jornalista brasileiro passou a se esconder depois de receber ameaças de morte, enquanto pelo menos quatro outros de um jornal diário disseram estar sendo constantemente intimidados pela polícia, segundo os repórteres e seus empregadores.
“É perturbador que jornalistas brasileiros informando sobre questões essenciais como corrupção policial continuem a enfrentar ameaças de morte, perseguição e tentativas de força-los a revelar suas fontes”, disse em Nova York o coordenador do programa das Américas do CPJ, Carlos Lauría. “Autoridades independentes devem conduzir uma investigação completa sobre esses atos de intimidação – inclusive qualquer um cometido pelos encarregados de aplicar a lei – e assegurar que os jornalistas possam realizar seu trabalho”.
James Alberti, produtor da emissora de TV RPCTV no estado do Paraná, deixou o estado depois que um homem não identificado telefonou para a estação em 9 de abril e disse que havia planos para assassinar o jornalista e fazer com que parecesse com um assalto, segundo informações da imprensa e organizações locais de jornalistas e de liberdade de imprensa. O grupo de mídia Rede Paranaense de Comunicação (GRPCOM), proprietária da RCPTV, disse que tomou uma série de medidas para proteger a segurança de seus jornalistas.
A ameaça ocorreu depois que a RPCTV levou ao ar reportagens sobre suposta corrupção e pedofilia dentro do escritório fiscal do governo estadual em Londrina, uma cidade a cerca de 240 quilômetros da capital do estado, Curitiba, disse a GRPCOM em uma declaração pública. Alberti foi o produtor das matérias. A emissora transmitiu dezenas de reportagens sobre essas questões, começando em fevereiro; a mais recente foi transmitida esta semana, disse um funcionário da GRPCOM ao CPJ. A GRPCOM prometeu não suspender suas reportagens, acrescentou o comunicado.
No comunicado, a GRPCOM também pediu que a polícia federal, a unidade de crime organizado da polícia estadual, e o governo do estado atuem imediatamente para proteger seus funcionários.
A Secretaria de Estado de Segurança Pública e de Administração de Penitenciárias, que supervisiona as polícias civil e militar do estado do Paraná, disse ao CPJ em um comunicado que estava ciente das ameaças à Alberti. “A pedido do governador Beto Richa, uma investigação foi aberta investigar cuidadosamente o caso”, informou a declaração
Separadamente, quatro jornalistas da Gazeta do Povo, também de propriedade da GRPCOM, na cidade de Curitiba, foram assediados pela polícia em conexão com uma série de histórias que escreveram em maio de 2012, de acordo com os jornalistas e reportagens. Os jornalistas – Mauri König, Felippe Aníbal, Diego Ribeiro e Albari Rosa – escreveram sobre a corrupção dentro das forças policiais do estado do Paraná.
König, que em 2012 foi premiado com o Prêmio Internacional de Liberdade de Imprensa do CPJ, passou a se esconder em dezembro de 2012, por vários meses, depois de receber ameaças de morte relacionadas com as reportagens. Desde então, disse ao CPJ, as forças policiais militares e civis iniciaram investigações sobre a alegada corrupção e instam König e seus colegas a ajudá-los com a sindicância.
Mas, disse König, a investigação parece ser mais sobre descobrir a fonte da história do que encontrar aqueles envolvidos em qualquer irregularidade. “Eles nos chamam sob o pretexto de ouvir o que tinha a dizer, para que pudessem abrir uma investigação interna”, disse König ao CPJ pelo telefone, acrescentando que ele e seus colegas haviam sido chamados em 14 vezes ao longo de dois anos. “Mas com o tempo, percebemos que o que realmente queriam era descobrir as nossas fontes.”
Aníbal disse ao CPJ que, em 31 de março, foi chamado pelo sargento que está conduzindo a investigação. Durante a reunião, o sargento trouxe um policial militar para a sala e perguntou a Aníbal se o policial foi a sua fonte para as matérias de 2012, contou o jornalista. Aníbal se recusou a responder e depois postou sobre o incidente no Facebook.
A secretaria de estado disse em um comunicado que “repudiava veementemente qualquer tentativa, inclusive pela polícia, de intimidar e constranger jornalistas e cidadãos que denunciem irregularidades”, informou o jornal O Globo. A assessoria de imprensa da secretaria do estado disse ao CPJ que os policiais militares e civis do estado tinham recebido ordens de limitar suas investigações aos fatos dos casos, em vez de encontrar a fonte dos vazamentos.
No Brasil, os jornalistas têm sido alvo de abuso ou pior. As pesquisas do CPJ mostram que é o 11º país mais letal para a imprensa, com pelo menos 31 jornalistas mortos diretamente por seu trabalho desde 1992, quase todos alvo de assassinato. O histórico de impunidade no Brasil contribui para a violência e a intimidação, demonstra a pesquisa do CPJ. Em maio de 2014, o CPJ publicou um relatório que analisou a situação do Brasil em relação à impunidade em assassinatos de jornalistas; violência contra jornalistas; censura pelos tribunais; e liberdade na internet. A delegação do CPJ apresentou à presidente Dilma Rousseff as recomendações do relatório.
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