Nova York, 23 de abril de 2012 – Três jornalistas provinciais colombianos se viram obrigados a abandonar suas cidades nos últimos meses após receber ameaças de morte ligadas a grupos armados. O Comitê para a Proteção dos Jornalistas (CPJ) pediu hoje às autoridades para garantir a sua segurança.
Jesús Antonio Pareja, que trabalha em uma rádio comunitária em Roncesvalles, no departamento [estado] de Tolima, no centro do país, recebeu ameaças de morte das Forças Armadas Revolucionária da Colômbia (FARC), o maior grupo guerrilheiro de esquerda do país, segundo informou a Fundação para a Liberdade de Imprensa (FLIP), grupo de liberdade de imprensa radicado em Bogotá.
Pareja estava trabalhando em tempo parcial para La Voz de la Tierra, em Roncesvalles, localizada em uma região montanhosa que foi, por muito tempo, um bastião das FARC. O jornalista recebeu um telefonema em 9 de abril de uma pessoa que se identificou como o comandante Donald, da frente 21 das FARC. Na ligação, ele advertiu Pareja que o matariam se ele não deixasse a cidade em três dias, contou o repórter ao CPJ.
Pareja afirmou que o suposto comandante das FARC acusou a rádio de ter veiculado propaganda do exército, incluindo a promoção de uma represa hidroelétrica que as FARC consideram um objetivo militar, e de estimular camponeses deslocados pelo conflito armado a pleitear os benefícios de uma nova lei de terras. Pareja disse que a rádio nunca difundiu propaganda do exército, mas que havia divulgado um anúncio de utilidade pública relacionado com a lei de terras e publicidade patrocinada pela empresa que está construindo a represa.
Pareja deixou Roncesvalles em 10 de abril e agora está em Ibagué, capital do departamento de Tolima. Ele está desempregado e pleiteou benefícios como uma pessoa deslocada. “Só queria ajudar a comunidade”, disse Pareja, que trabalhou na rádio por 13 anos. “Mas, agora, sou um refugiado”.
Na cidade de Briceño, no departamento de Antioquia, no norte do país, Edilberto Agudelo, diretor da rádio comunitária Briceño Estéreo, recebeu ameaças de morte no ano passado. O jornalista foi ameaçado depois de denunciar vínculos entre a polícia de Briceño e Los Urabeños, uma grande organização criminosa, em uma reunião pública com ativistas locais, informou a FLIP.
Agudelo se viu obrigado a abandonar Briceño em 14 de dezembro após receber um panfleto ameaçando-o de morte. Agudelo disse ao CPJ que levou a sério as ameaças porque, 30 minutos antes de receber o panfleto, o administrador de um hospital local que também havia denunciado os vínculos criminosos na reunião foi assassinado a tiros.
O caso de Agudelo não foi divulgado na época. Mas, em 13 de abril, sua esposa Dionisia Morales, locutora da rádio, recebeu ameaças de morte por mensagens de texto e telefonemas, disse o jornalista ao CPJ. A pessoa se identificou como membro das Autodefesas Gaitanistas da Colômbia, um dos vários grupos de narcotraficantes que operam no país. Informações da imprensa indicam que o bando poderia fazer parte de Los Urabeños.
A pessoa a advertiu “que teria até 8h00 do dia seguinte para sair da cidade, ou a matariam e destruíram a rádio”, contou Morales ao CPJ. Morales saiu de Briceño e foi imediatamente para Medellín, e a viagem foi feita com escolta policial. Morales afirmou ao CPJ que a ameaçaram por ser esposa de Agudelo e que a rádio não havia informado sobre temas sensíveis desde que seu marido abandonara a cidade.
Morales, Agudelo e seus dois filhos estão vivendo agora em Medellín e continuam administrando a rádio por telefone. Um funcionário afirmou a repórteres que o governo forneceria proteção aos dois jornalistas, mas o casal explicou que, até agora, o Ministério do Interior não forneceu escoltas. “Não sei quanto tempo precisaremos ficar aqui, mas sem segurança não podemos voltar”, disse Agudelo ao CPJ.
“As autoridades colombianas devem investigar estas ameaças e adotar todas as medidas necessárias para proteger Edilberto Agudelo, Dionisia Morales e Jesús Antonio Pareja”, declarou Carlos Lauría, coordenador sênior do programa das Américas do CPJ. “Estes casos ilustram as fortes pressões sofridas pelos jornalistas provinciais na Colômbia, e reafirmam a obrigação do governo de assegurar que a liberdade de expressão não se converta em uma vítima”.
O informe anual do CPJ, Ataques à Imprensa, revelou que o número de ameaças contra jornalistas colombianos aumentou em 2011, obrigando alguns repórteres a se radicarem em outro lugar. Em fevereiro deste ano, Bladimir Sánchez Espitia, jornalista independente e ativista colombiano, abandonou sua cidade natal com destino à capital depois de receber ameaças de morte relacionadas com um vídeo que postou no YouTube.