Cidade do México, 5 de julho de 2018 – As autoridades do estado de Quintana Roo, no sul do México, devem realizar imediatamente uma investigação rápida e confiável sobre a morte do jornalista José Guadalupe Chan Dzib e levar os responsáveis à justiça, disse hoje o Comitê para a Proteção dos Jornalistas (CPJ). Chan Dzib foi baleado e morto por um agressor desconhecido na noite de 29 de junho em um bar em Sabán, a cerca de 240 km a sudeste da cidade turística de Cancun.
De acordo com as informações da imprensa, o repórter foi baleado várias vezes por um único atirador não identificado no bar La Baticueva, em Sabán, aproximadamente às 22h00 em 29 de junho. Uma breve declaração da Procuradoria Geral do estado de Quintana Roo, publicada em sua página no Facebook, afirmava que Chan Dzib já havia morrido quando a polícia chegou ao bar pouco depois de o tiroteio ter sido relatado.
Em uma segunda declaração, divulgada em 1º de julho, o gabinete do Procurador-geral do estado disse que ainda não havia identificado o suspeito ou suspeitos e ainda não descartou qualquer possível motivo, incluindo uma eventual conexão com o trabalho do repórter.
“As autoridades de Quintana Roo devem fazer tudo o que estiver ao seu alcance para determinar o motivo por trás da morte a tiros de José Guadalupe Chan Dzib”, disse Jan-Albert Hootsen, representante do CPJ no México. “Sem medidas concretas para resolver os assassinatos de repórteres, o México continuará sendo um dos lugares mais perigosos do mundo para os jornalistas”.
Ricardo Sánchez Pérez del Pozo, que chefia a Procuradoria Especial para a Atenção aos Crimes Contra a Liberdade de Expressão (FEADLE), disse ao CPJ em 2 de julho que seu escritório havia aberto uma investigação sobre o assassinato.
O homicídio ocorreu dois dias antes das eleições gerais do México em 1º de julho, que incluíam o sufrágio para os municípios e o Congresso estadual em Quintana Roo. A campanha foi a mais letal da história recente; mais de 100 candidatos e trabalhadores políticos foram assassinados, segundo a empresa de consultoria de risco Etellekt, da Cidade do México, e pelo menos mil abandonaram a corrida eleitoral devido à ameaça de violência, de acordo com as informações da imprensa.
Chan Dzib, 43, foi repórter do meio de notícias online Semanario Playa News, que opera fora da cidade turística de Playa del Carmen e usa o Facebook como plataforma. Rubén Pat, cofundador do veículo de comunicação, disse ao CPJ em uma conversa telefônica em 2 de julho que ele havia contratado Chan Dzib em março deste ano, e que ele reportava da região em torno do município de Felipe Carrillo Puerto. Antes de juntar-se ao Semanario Playa News, Chan Dzib foi repórter dos jornais locais, Por Esto e Respuesta.
Segundo Pat, o jornalista cobria principalmente notícias gerais, política local, crime e segurança. Suas publicações mais recentes para o Semanario Playa News incluíram uma reportagem sobre a execução de um líder político local em Sabán e uma matéria sobre o último evento de campanha de um candidato a prefeito em Felipe Carrillo Puerto.
Pat disse ao CPJ em 2 de julho que Chan Dzib havia lhe dito três semanas antes que recebera um telefonema ameaçador de uma pessoa desconhecida. Ele acrescentou, no entanto, que o repórter não explicou se a ameaça estava relacionada ao seu trabalho como jornalista. Pat informou não saber de ameaças adicionais. Um membro da família, que pediu anonimato por medo de represálias, disse ao CPJ em 30 de junho que não sabia de nenhuma ameaça e que Chan Dzib geralmente não discutia seu trabalho com a família.
O assassinato de Chan Dzib não é o primeiro ataque ao pessoal do Semanario Playa News. Em 25 de junho de 2017, o próprio Rubén Pat foi preso e espancado por policiais e detido por várias horas em Playa del Carmen. Ele disse ao CPJ vários dias após o ataque que os policiais o agrediram com raiva por causa de um artigo que o Playa News publicou sobre banners pendurados em vários locais da cidade, supostamente por uma gangue criminosa. Desde então, Pat foi incorporado em um esquema de proteção pelo Mecanismo Federal para a Proteção de Defensores dos Direitos Humanos e Jornalistas.
Um porta-voz da instituição disse ao CPJ em 2 de julho que Chan Dzib não estava inscrito no esquema de proteção estadual nem no federal. Ele pediu para permanecer anônimo para falar livremente sobre o assunto.
O México é um dos países mais mortais do mundo para jornalistas, de acordo com a pesquisa do CPJ. Chan Dzib foi o sexto jornalista morto no México este ano. O CPJ determinou que pelo menos dois dos jornalistas assassinados em 2018 foram alvo de represálias diretas por seu trabalho.