Bogotá, Colômbia, 27 de maio de 2015– Em uma reunião na terça-feira com o Comitê para a Proteção dos Jornalistas (CPJ) e o grupo de liberdade de imprensa colombiano Fundação para a Liberdade de Imprensa, ou FLIP (sigla em espanhol), o presidente colombiano Juan Manuel Santos prometeu priorizar o combate à impunidade em ataques contra a imprensa.
“Recebemos com satisfação o compromisso do presidente Juan Manuel Santos para enfrentar o alto nível de impunidade em ataques a jornalistas, o que mostra que ele reconhece a importância de uma imprensa livre”, disse Carlos Lauría, coordenador sênior do programa das Américas do CPJ. “Santos tem agora de cumprir sua promessa e trabalhar para garantir que os assassinatos de jornalistas e outros ataques sejam resolvidos. A Colômbia tem um longo caminho a percorrer na luta contra a impunidade”.
Pelo menos 46 jornalistas foram mortos em consequência direta de seu trabalho na Colômbia desde 1992, três deles desde que Santos tomou posse em 2010, de acordo com a pesquisa do CPJ. O país ocupa o oitavo lugar no Índice de Impunidade 2014 do CPJ, que destaca países onde jornalistas são assassinatos e os responsáveis ficam livres.
A delegação CPJ-FLIP, que visitou o palácio nacional conhecido como Casa de Nariño, encontrou-se com Santos para discutir preocupações chave sobre liberdade de imprensa na Colômbia, incluindo o alto nível de impunidade em casos de assassinatos de jornalistas e ataques contra a imprensa local. A delegação incluía Lauría; Pedro Vaca Villrreal, diretor-executivo da FLIP; Ignacio Gómez, membro do conselho da FLIP e ex-vencedor do IPFA; John Otis, correspondente do CPJ para as Américas nos Andes; e Andrés Morales, membro do grupo consultivo do programa das Américas do CPJ.
Santos disse à delegação que a luta contra a impunidade “será uma prioridade do meu governo” e que seu gabinete gostaria de instar as autoridades judiciais a acelerar as investigações. Embora a situação de segurança na Colômbia tenha melhorado nos últimos anos, a impunidade está enraizada, e ameaças e violência contra jornalistas continuam, de acordo com a pesquisa do CPJ. Problemas como promotores sobrecarregados e manuseio incorreto de provas têm atrasado investigações criminais por anos.
“Eu tenho sido um defensor da liberdade de imprensa por mais de 40 anos”, disse Santos, “e eu me importo profundamente com a questão.” Santos é um ex-jornalista e foi presidente da comissão de liberdade de expressão para a Associação Interamericana de Imprensa. Sua família era a acionista maioritária do principal jornal El Tiempo até 2007.
Santos assumiu uma série de compromissos com a delegação, incluindo o de investigar o nível crescente de ameaças contra jornalistas colombianos. Os jornalistas que cobrem questões delicadas na Colômbia, como o conflito de décadas, o crime e a corrupção, enfrentaram renovada violência e intimidação nos últimos anos, de acordo com a pesquisa do CPJ. Pelo menos dois jornalistas foram mortos em circunstâncias pouco claras na Colômbia este ano. O CPJ continua investigando se as mortes estavam relacionadas ao seu trabalho.
A delegação manifestou o seu desejo de ver progressos no assassinato do jornalista Orlando Sierra 2002; o ataque de 2000 contra a repórter Jineth Bedoya; o ataque contra o editor Ricardo Calderón em 2013; e as ameaças feitas em 2013 contra o repórter investigativo Gonzalo Guillén. Santos respondeu: “Eu sou a pessoa mais interessada na resolução desses casos. É uma prioridade para meu governo”.
CPJ e FLIP também disseram que as autoridades colombianas devem tomar medidas, especialmente nos casos em que haja provas de atos criminosos por parte de funcionários locais. “Eu posso afirmar que minha administração vai colaborar ativamente para identificar os responsáveis” para que possam ser levados à justiça, disse Santos.
A delegação falou sobre as deficiências do programa de proteção a jornalistas, que foi lançado na Colômbia em 2011, e recomendou a concentração, em primeiro lugar, na prevenção de ataques. O programa oferece proteção para cerca de 7.500 pessoas em risco, incluindo ativistas dos direitos humanos, políticos e jornalistas, a um custo total de US $ 600.000 por dia, de acordo com uma reportagem da AFP em 2014.
Santos concordou: “Eu imagino um país normal, onde os jornalistas não terão carros blindados e guarda-costas e não precisarão de nenhuma proteção”, disse ele. “Mas, por agora, precisamos ter a certeza de que o programa é adequadamente financiado e eficaz.”
A delegação também abordou a responsabilidade das forças de segurança e membros das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia, o grupo rebelde marxista Farc, em ataques contra jornalistas e discutiu como o problema poderia ser resolvido nas negociações de paz em curso, que foram iniciadas em 2012 para acabar com o conflito de décadas.
Durante as negociações de paz, o governo colombiano e guerrilheiros das FARC concordaram em criar uma comissão da verdade para investigar a morte de milhares de pessoas no conflito, segundo informações da imprensa.