Nunca antes tantos jornalistas de áreas distintas escreveram matérias tão diferentes. Mas, não importa a forma de jornalismo, do investigativo ao especializado, de correspondentes estrangeiros à cobertura nacional, de blogs ao fotojornalismo, o ponto de partida é uma minuciosa preparação.
Nunca antes tantos jornalistas de áreas distintas escreveram matérias tão diferentes. Mas, não importa a forma de jornalismo, do investigativo ao especializado, de correspondentes estrangeiros à cobertura nacional, de blogs ao fotojornalismo, o ponto de partida é uma minuciosa preparação.
Pesquise com cuidado a sua cobertura ou reportagem. Conheça o terreno, a história, quem atua, a dinâmica e as tendências sob diversos pontos de vista. (Consulte as seções abaixo sobre Correspondência Estrangeira e Jornalismo Doméstico). Familiarize-se com a cultura, costumes e expressões idiomáticas do grupo a cobrir. Conhecer o idioma é muito útil, especialmente frases e termos básicos. Faça uma lista de possíveis fontes de notícias sob uma série de perspectivas. Planeje detalhados planos de emergência, identificando rotas de fuga e contatos de confiança que você deverá manter informados sempre, sobre onde você está, seus planos e detalhes do trabalho. (Veja o Capítulo 2 – Avaliação e Resposta a Risco.) Outras medidas importantes são um seguro de saúde adequado, vacinas (veja nas seções abaixo sobre Cobertura de Seguro, Assistência Médica e Vacinas), estar ciente das medidas de segurança quanto à informação e comunicação (veja Capítulo 3 – Segurança da Informação), e receber treinamento sobre conflitos e equipamentos adequados (veja Capítulo 4 – Conflito Armado).Obtenha o máximo de informações sobre seu destino, antes de viajar. Isso é essencial para a sua segurança. Acompanhe de perto o noticiário sob vários pontos de vista, de diferentes fontes que espelhem uma gama de perspectivas, diversas fontes acadêmicas, alertas de viagem e de saúde da Organização Mundial da Saúde e outros órgãos governamentais ou multilaterais, e relatórios sobre os direitos humanos e liberdade de imprensa por parte do governo e fontes não governamentais. Simples guias de viagem podem fornecer informações básicas sobre a cultura e costumes do lugar. Antes de viajar para algum lugar, especialmente pela primeira vez, ouça a opinião de jornalistas com experiência na região. Conselhos específicos sobre a área por parte de colegas de confiança são fundamentais no planejamento de uma cobertura e para avaliar os riscos. Se você é novo na profissão ou numa determinada região, peça a colegas experientes se você pode acompanhá-los por um tempo durante o trabalho deles.
Faça todo o possível para aprender as expressões básicas dos idiomas nativos para facilitar interações diárias e demonstrar respeito, o que pode reforçar sua segurança. Estude os meios de sair da região bem como a infraestrutura médica disponível. A rede universitária americana de correspondentes estrangeiros disponibiliza uma lista de diversos recursos que podem ajudar nos preparativos.
Verifique sempre as questões de segurança antes de fazer uma cobertura potencialmente perigosa. Antes de partir, estabeleça pontos claros de contato com os editores, colegas e amigos ou familiares. Seus contatos na região precisam saber como localizar seus parentes e editores; seus parentes e editores, por sua vez, precisam saber como alcançar seus contatos na região. Pesquise com antecedência onde pretende se alojar, o estado da infraestrutura de comunicações e a possibilidade de haver vigilância. Decida como pretende se comunicar com os editores e parentes em casa, por telefone fixo, VOIP [voz pela internet], chat ou e-mail, e a escolha ou não de um pseudônimo junto com algum tipo de código, formas de criptografia, ou outros meios seguros de comunicação eletrônica. (Veja o Capítulo 3 – Segurança da Informação). Antes de viajar, organize ou prepare procedimentos específicos para auxiliares locais, motoristas e tradutores. Tenha muito cuidado e atenção na avaliação da equipe de apoio local e não deixe de buscar a opinião de colegas. Porque a sua segurança muitas vezes está nas mãos dos auxiliares, é essencial que você escolha pessoas de confiança e bem-informadas. Jornalistas que pretendem viajar com unidades militares devem determinar contatos e fazer preparativos antes de ir.
Em muitos países, é aconselhável ter alguém a sua espera no aeroporto para levá-lo ao seu alojamento inicial. Isso permite que você se ambiente e evita riscos desconhecidos, como estradas inseguras ou criminosos. Escolha o alojamento com antecedência. Sua escolha de alojamento ou hotel depende, em parte, do perfil que você deseja apresentar. Grandes hotéis, que atendem clientes empresariais, costumam oferecer altos níveis de segurança, mas podem colocar em evidência a sua presença. Grandes hotéis também oferecem serviços como internet sem fio, embora as conexões possam estar comprometidas em países repressivos. A escolha de um pequeno hotel ou alojamento privado permite que você mantenha uma presença mais discreta, o que pode ajudar na realização de sua cobertura. Um alojamento assim, no entanto, tem níveis mais baixos de segurança ou nenhum. Evite quarto ou alojamento com varanda ou janelas que facilitem a entrada de intrusos. Planeje sempre vias de fuga ou saídas de emergência.
Obtenha com antecedência treinamento de segurança recomendado ou equipamentos como coletes blindados. (Veja Capítulo 4 – Conflito Armado.) Remédios com receita devem estar embalados nos invólucros rotulados originais, na bagagem de mão, conforme recomenda a Organização Mundial da Saúde. Recomenda-se levar uma segunda dose dos remédios (junto com as informações de contato de seu médico) nas outras malas, em caso de perda ou roubo de sua bagagem de mão. Líquidos acima de 85 ml devem ser colocados na bagagem de carga para transpor as inspeções de segurança nos aeroportos. Leve também o cartão de vacinação internacional, bem como informações oficiais do seu grupo sanguíneo e de alergias ou problemas de saúde. Verifique a disponibilidade de assistência médica na região a cobrir, inclusive a localização de hospitais, clínicas e médicos.
Compre também, antes de viajar, roupas adequadas, para todo tipo de clima. Jornalistas que trabalham no estrangeiro devem escolher tons de cor da terra ou cores escuras que não sobressaem à distância e se distinguem do azul usado pela polícia ou do verde do exército ou das cores de camuflagem usadas por unidades militares. Qualquer jornalista deve usar calçado adequado, uma mochila resistente e equipamento confortável para dormir. Amacie o calçado antes de chegar ao local da cobertura. Leves artigos que podem ser difíceis de encontrar em regiões menos desenvolvidas, tais como pilhas, lanternas, cadernos, tampões, fio dental, um kit compacto de primeiros socorros, antissépticos, e pomada fungicida para pé de atleta, bem como bolsos ou dispositivos para ocultar dinheiro (Veja o Apêndice A – Listas de verificação, para uma lista mais abrangente). Os jornalistas devem se certificar de que terão acesso a dinheiro em dólares norte-americanos ou euros. A Federação Internacional de Jornalistas recomenda levar uma carteira simulada com cartões de aspecto oficial e algum dinheiro, para o caso de assalto.
Seu passaporte e os devidos vistos devem estar atualizados. O passaporte deve estar a pelo menos seis meses de vencer e com número suficiente de páginas em branco para carimbos de visto. Providencie também com antecedência uma carteira de habilitação internacional de um emissor reconhecido. Alguns países exigem carteira internacional além da carteira do país de origem, o que facilita o aluguel de carro.
Enquanto jornalistas estrangeiros se defrontam com problemas logísticos e de segurança, os jornalistas domésticos enfrentam ameaças mais graves à sua vida e liberdade. A pesquisa do CPJ mostra que desde 1992, quase nove entre dez mortes relacionadas com o trabalho envolveram jornalistas locais, que cobriam notícias em seus países. E mais de 95 por cento dos jornalistas encarcerados em todo o mundo são repórteres, fotógrafos, blogueiros e editores locais, de acordo com a mesma pesquisa do CPJ. A necessidade de uma exaustiva preparação e planejamento de segurança é especialmente importante para repórteres locais.
Se você é novo na profissão, num tema, ou em um tipo especial de cobertura, procure o conselho ou talvez a tutoria de colegas mais experientes. Quando autorizado, acompanhe por algum tempo um colega mais experiente para ver como ele trabalha; assim você adquire valiosos conhecimentos na prática observando um veterano. Pesquise todas as leis de imprensa aplicáveis, inclusive os estatutos que governam o acesso à informação pública, acesso à propriedade privada, calúnias e difamação, e restrições ao conteúdo, que muitos países opressores tentam impor. Países como a Etiópia, por exemplo, acham que a simples cobertura de grupos de oposição é crime contra o Estado. A China encarcera escritores que criticam o governo central ou o Partido Comunista. Dezenas de jornalistas são presos a cada ano no mundo inteiro por causa de acusações desse tipo. Mesmo que você queira ultrapassar os limites legais quanto ao conteúdo da sua matéria, você precisa estar ciente das restrições e das implicações possivelmente importantes quando ultrapassar esses limites.
Repórteres especializados que cobrem política, corrupção, crimes, e conflitos correm risco especial de serem agredidos ou presos, mostra a pesquisa do CPJ. Se você está cobrindo uma matéria especial, procure achar tempo para se familiarizar com os aspectos de segurança relacionados ao seu assunto, identificar os agentes principais e conhecer seus motivos; e estar ciente das consequências de ultrapassar as restrições impostas por estatutos ou meios violentos, fora da legalidade. Os editores devem dar aos novos jornalistas tempo suficiente de preparação antes de encontrar-se com as fontes, conversar com colegas mais experientes e aprender os procedimentos e terminologia relativos ao tema. A editoria de polícia, especialmente, requer conhecimento da conduta policial (Veja Capítulo 5 – Crime Organizado e Corrupção, e Capítulo 6– Questões Civis e Distúrbios). Sobre o crime e outras coberturas de alto risco, planeje uma avaliação de segurança em consulta com os editores (Veja o Capítulo 2 – Avaliação e Resposta ao Risco).
O freelance deve conhecer o nível de amparo que o jornalista empregador ou o meio de comunicação pode lhe oferecer em caso de problemas. Tenha em mente que você pode recusar um trabalho.
Se você é freelance e cogita um trabalho para um meio de comunicação nacional ou internacional, precisa estar bem a par da capacidade ou disposição desse meio de comunicação de lhe dar respaldo se você estiver em apuros. Faça sempre uma avaliação de segurança antes de um trabalho potencialmente perigoso, estabeleça contatos confiáveis de segurança, e determine sempre um procedimento minucioso para os contatos de forma regular (Veja Capítulo 2 – Avaliação e Resposta ao Risco). Se a cobertura for arriscada, um freelance não deve ter dúvidas em recusá-la. Em alguns países altamente opressores, pode ser proibido por lei trabalhar como jornalista para a mídia internacional. Conheça a lei e as implicações de trabalhar para a mídia estrangeira. Em vários países, não é conveniente ser identificado como o autor da matéria ou constar nos créditos. Entenda as implicações de ter o seu nome num artigo publicado em um meio de comunicação de um país considerado inimigo. Informe claramente ao órgão noticioso como quer ser identificado.
Todos os repórteres locais devem saber que tipo de respaldo profissional está disponível. Alguns países têm organizações profissionais eficazes que podem fornecer orientação sobre as leis relativas à imprensa, juntamente com conselhos práticos para certos trabalhos. Se você encontrar problemas, algumas organizações nacionais também podem intervir em seu nome ou divulgar o seu caso. Lembre-se também de que grupos internacionais como o CPJ e Repórteres Sem Fronteiras tem meios de chamar a atenção global e defendê-lo em caso de perseguição ou ameaças. (Para obter uma lista dos grupos locais e internacionais, consulte o Apêndice E – Organizações de Jornalismo. O Intercâmbio Internacional pela Liberdade de Expressão mantém uma extensa lista de grupos.).
Se você for convidado a trabalhar como intérprete ou auxiliar de um jornalista internacional, obtenha informações claras sobre os riscos inerentes à tarefa. Certifique-se de saber com antecedência com quem você vai se encontrar e onde. Faça uma avaliação do jornalista internacional com quem você vai trabalhar, observando sua experiência, desempenho e tolerância ao risco. Avalie as consequências de aparecer em uma região hostil com um repórter de um país que é visto como adversário. Tenha em mente que você pode recusar um trabalho, e conheça o nível de amparo que o jornalista empregador ou o meio de comunicação podem lhe oferecer em caso de problemas. Conheça claramente o seu papel na cobertura. Você está sendo convidado a trabalhar como intérprete e fornecer apoio logístico? Ou você também vai fazer reportagens? Este último tem implicações de segurança adicionais que você deve compreender.
Para todos os tipos de repórteres e auxiliares locais, os meios de comunicação e seus editores devem explicar claramente o papel a ser desempenhado pela pessoa e qual o amparo legal e de segurança que a organização está preparada a oferecer em caso de problema. Os editores devem entender que um jornalista local pode recusar um trabalho arriscado e devem aceitar essa decisão sem penalizar a pessoa. Os meios de comunicação devem levar em consideração que têm compromissos éticos quando enviam um repórter freelance local para uma tarefa perigosa.
Blogueiros independentes, videomakers e jornalistas cidadãos surgiram como importantes agentes noticiosos, em especial durante os levantes árabes que começaram em 2011. Na Líbia e na Síria, onde as autoridades bloquearam o acesso da mídia internacional, os cidadãos atuaram como jornalistas independentes. Alguns filmaram a repressão dos governos e postaram imagens na internet, enquanto outros divulgavam notícias de última hora através de blogs independentes, micro-blogs e mídias sociais. Em regiões muito restritas, o trabalho deles abriu uma janela pela qual o resto do mundo podia acompanhar os conflitos. Vários desses jornalistas pagaram com suas vidas. Na Síria, os videomakers independentes Ferzat Jarban e Basil al-Sayed morreram em supostos assassinatos seletivos. Na Líbia, o fundador de um site independente, Mohammed al-Nabbous, foi baleado durante a transmissão de áudio ao vivo de um combate em Benghazi.
Blogueiros independentes e videomakers devem desenvolver uma rede de contatos profissionais e familiares que possam ser mobilizados em caso de emergência. O Instituto de Notícias sobre Guerra & Paz, radicado em Londres, ajudou jornalistas cidadãos a organizarem redes locais nos Bálcãs e no Oriente Médio. Em muitos países, essas redes precisam ser criadas de uma forma que proteja a identidade de seus membros. (Veja o Capítulo 3 – Segurança da Informação – para obter informações detalhadas sobre a forma de se comunicar com segurança.). Prepare uma avaliação de segurança, conforme descrito no Capítulo 2. Blogueiros independentes, videomakers, fotógrafos e outros cidadãos, devem estar cientes dos graves riscos na realização de trabalhos jornalísticos em tempos de crise sem ter nenhum amparo institucional e trabalhando por conta própria. É imprescindível um rigoroso planejamento de segurança, incluindo o uso de comunicação segura e o hábito de manter contato regular com colegas e parentes.
Providencie credenciais de imprensa antes de iniciar a reportagem, já que vai precisar provar sua condição quando solicitado. Muitas organizações de notícias emitem credenciais a pedido de funcionários contratados e outros freelances. No mínimo, freelances devem obter das agências uma carta em papel timbrado da organização, que indique sua filiação. Várias associações de jornalistas e grupos comerciais também emitem credenciais de imprensa para pessoas qualificadas que fazem parte de suas organizações, incluindo o Sindicato Nacional de Escritores e a Associação Nacional de Fotógrafos de Imprensa, com sede nos Estados Unidos, e a Federação Internacional de Jornalistas, radicada na Bélgica. Associações de imprensa em muitos outros países fazem o mesmo, embora blogueiros independentes ainda tenham dificuldades na obtenção de credenciais. Blogueiros independentes podem reunir seus trabalhos jornalísticos num portfolio, o que pode ajudá-los na obtenção de credenciais de imprensa.
Também se deve pesquisar e obter credenciais de imprensa de autoridades municipais, regionais ou nacionais, reconhecendo que os funcionários podem emitir credenciais em uma base seletiva na tentativa de influenciar a cobertura (ver Capítulo 6 – Questões Civis e Distúrbios). Credenciais de imprensa emitidas por um departamento de polícia local podem ser úteis na hora de cobrir uma manifestação local. Credenciais também podem ser necessárias para tirar fotos ou gravar eventos em edifícios públicos, como assembleias legislativas estaduais ou nacionais.
Jornalistas que viajam ao exterior também devem pesquisar e se informar se precisam de visto de jornalista para trabalhar em determinado país. A resposta nem sempre é clara. Em tais casos, os jornalistas devem falar com outros repórteres e funcionários do governo para determinar qual o procedimento mais adequado. Houve muitos casos em que jornalistas viajaram a países restritivos com visto de turista ou de outro tipo, como forma de burlar a censura e realizar o seu trabalho de forma efetiva. Jornalistas devem pesar, no entanto, as possíveis consequências legais.
“Em países onde o governo possa impor restrições a jornalistas estrangeiros, é necessário avaliar essas limitações contra as consequências de ser surpreendido sem credenciamento”, de acordo com um folheto informativo sobre credenciamento compilado pelo jornalista Michael Collins para a Sociedade de Jornalista Profissionais, radicada nos EUA. “Em suma, é uma decisão que só você pode tomar, mas quando se lida com a polícia, forças armadas, ou outros funcionários, é quase sempre melhor ter um credenciamento oficial.”
Autoridades militares, às vezes, emitem suas próprias credenciais para jornalistas. Forças militares do governo, bem como grupos armados rebeldes, podem exigir que o jornalista apresente uma autorização por escrito de um oficial superior, a fim de passar pelos postos armados de controle. Essa autorização pode ser uma carta assinada com o selo oficial de um grupo, ou o cartão-de-visita de um comandante com uma anotação escrita no verso. Atente sempre para o tipo de autorização a mostrar. Algum grupo pode interpretar a posse de autorização de um rival como sinal de colaboração com o inimigo.
Jornalistas que trabalham no estrangeiro devem levar consigo várias fotocópias do passaporte, credenciais, e cartas de autorização, além de fotos extras de passaporte.
Conseguir um seguro de saúde e invalidez adequado é um dos desafios mais difíceis enfrentados pelos jornalistas. Jornalistas com emprego fixo que atuam localmente devem examinar cuidadosamente as apólices fornecidas por seus empregadores quanto a condições e restrições. Jornalistas contratados devem tentar negociar uma cobertura com a organização de notícias que os emprega. Mas os jornalistas freelance devem encontrar e pagar o seguro por conta própria, devem se dar ao trabalho de pesquisar planos de cobertura que atendam às suas necessidades específicas. (Um número surpreendente de jornalistas, de repórteres de rádios comunitárias que trabalham em países menos desenvolvidos a fotojornalistas de guerra que trabalham para grandes meios de comunicação ocidentais, realizam seu trabalho com escasso ou nenhum seguro de saúde, segundo confirmaram ao CPJ inúmeros jornalistas).
Associações de jornalistas em países mais ricos podem oferecer acesso a diferentes planos de saúde e de seguro de vida. A norte-americana Sociedade de Jornalistas Profissionais oferece uma série de planos de seguro, incluindo seguro hospitalar, seguro de despesas médicas para lesões graves e de longo prazo, morte acidental ou perda de membros, e seguro por invalidez. Os planos da SJP não estão disponíveis em todos os estados dos EUA e não estão disponíveis para jornalistas que trabalham fora dos Estados Unidos. O Sindicato Nacional de Escritores e a Associação Nacional de Fotógrafos de Imprensa oferecem planos de seguro para seus respectivos membros.
Jornalistas que trabalham no exterior têm algumas opções. O grupo de liberdade de imprensa radicado em Paris, Repórteres sem Fronteiras, em colaboração com a seguradora World Escapade Travel Insurance, com sede em Quebec, Canadá, oferece planos de seguro a preços competitivos para jornalistas, inclusive freelances, que trabalham fora do seu país de residência. Essas apólices cobrem jornalistas que trabalham em regiões hostis, incluindo zonas de guerra ao redor do mundo. Os custos do plano variam, dependendo do destino. A cobertura pode ser adquirida por dia até um total de 365 dias. Cobertura adicional está disponível para incluir condições preexistentes. Para se tornar elegível para esses planos, os jornalistas pagam uma taxa de adesão ao Repórteres Sem Fronteiras. Os planos incluem proteção de emergência, cobertura durante viagens ou enquanto ‘acompanham’ unidades militares (participação ativa como combatente anularia tal cobertura), e pagamentos por morte acidental e por perda de membros.
Alguns corretores de seguros e empresas privadas também oferecem seguro de saúde, invalidez e de vida para viajantes, incluindo os jornalistas que trabalham no estrangeiro, com o custo e a cobertura dependendo de diversos fatores. (Veja uma lista de potenciais seguradoras no Apêndice C – Seguradoras). Pesquise bem suas opções e reveja as apólices quanto a possíveis restrições, tais como exclusões de lesões resultantes de atos de guerra ou terrorismo. A Organização Mundial da Saúde recomenda que viajantes internacionais confirmem se seu seguro cobre mudanças de itinerário, evacuação médica de emergência e repatriamento dos restos mortais em caso de morte. Tenha em mente que a cobertura de longo prazo por lesão ou invalidez pode ser a parte mais importante de qualquer plano. Cobertura de imprevistos, tais como evacuação médica de emergência pode ser sumamente cara, e a evacuação em si pode não ser possível em zonas de guerra ou regiões remotas. Em tais casos, os jornalistas podem não ter escolha a não ser recorrer a tratamento médico local.
Manter-se em boa forma física e cultivar uma dieta adequada são medidas preventivas essenciais. Jornalistas que pretendem ir ao estrangeiro ou cobrir regiões remotas por um período significativo devem marcar com antecedência consultas médicas antes de viajar, incluindo seu médico de confiança, dentista, oftalmologista, ginecologista e fisioterapeuta. Qualquer tratamento dentário, em especial, deve ser realizado antes de partir.
Se você planeja trabalhar no exterior, consulte um médico qualificado ou clínica orientada a viajantes internacionais para assegurar que você tome todas as vacinas recomendadas com antecedência. Como prova de vacinações, tire cópia e leve com você o Certificado de Vacinação Internacional, um documento amarelo que deve estar assinado e carimbado, aprovado pela Organização Mundial da Saúde. Este certificado está disponível em quase todas as clínicas qualificadas. Algumas seguradoras, afirma a Organização Mundial da Saúde, podem exigir prova de imunização como condição para a cobertura médica de emergência ou repatriação em caso de emergência. Alguns países podem exigir prova da vacinação como condição de entrada; verifique os requisitos de países específicos. A Bolívia, por exemplo, exige que os visitantes apresentem vacinação contra a febre amarela.
A maioria dos médicos recomenda vacina antitetânica de 10 anos para adultos de 19 a 64 anos. Para os jornalistas que viajam para regiões onde prevalece a malária, os médicos podem também prescrever uma medicação profilática contra a malária para proteger contra infecção. Para algumas regiões, também se recomendam vacinas contra a poliomielite, hepatite A e B, febre amarela, febre tifoide. A vacina contra hepatite B deve ser planejada com meio ano de antecedência, porque requer três inoculações separadas durante um período de seis meses. A vacinação contra a febre amarela é obrigatória para viajar para a maioria dos países do Oeste Africano e da África Central. Vacinas contra poliomielite e meningite são necessárias para viajar a Meca, na Arábia Saudita. A Organização Mundial da Saúde fornece mapas atualizados com a distribuição geográfica da doença.
Vacinas contra a cólera já não são recomendadas rotineiramente para viagens internacionais, se bem que uma vacina oral contra a cólera pode ser recomendada para os trabalhadores humanitários, jornalistas e outros que viajam para regiões de alto risco. Uma vacina oral contra cólera aprovada em muitos países requer duas doses num período de duas a, no máximo, seis semanas.
Algumas vacinas podem deixá-lo temporariamente doente, mas qualquer febre alta ou prolongada deve ser informada de imediato a um médico. Esteja ciente de que nenhuma vacina é 100 por cento eficaz. E também não substituem precauções razoáveis e necessárias para evitar doenças.
Beber água potável é essencial, sempre. Água engarrafada em recipientes fechados é uma opção em regiões onde a água da torneira é contaminada ou suspeita (a Federação Internacional de Jornalistas recomenda beber apenas água engarrafada gaseificada em muitos países; água engarrafada sem gás pode estar contaminada). Caso não se possa evitar água insalubre, ferver a água por um minuto no mínimo, pode ser um meio de matar agentes patogênicos, de acordo com a Organização Mundial da Saúde. Deixe a água esfriar a temperatura ambiente, antes de colocá-la na geladeira. Há outras maneiras para esterilizar a água, dependendo do nível de contaminantes suspeitos. O uso de comprimidos de iodo ou cloro mata a maioria dos parasitas. Mas em regiões como o sul da Ásia e grande parte da África subsaariana, sistemas de filtros cerâmicos, de membrana, ou de carvão podem ser a única maneira de efetivamente filtrar patógenos, incluindo elementos microscópicos de excrementos humanos. Os jornalistas devem pesquisar o método de purificação de água mais adequado para o seu destino.
Em regiões onde há suspeita de água contaminada, coma apenas alimentos totalmente cozidos. Frutas devem ser descascadas ou lavadas em água limpa. Evite alimentos de vendedores de rua, bem como produtos feitos com leite cru, água ou ovos. Evite engolir água durante o banho, use água limpa para escovar os dentes e lave as mãos e talheres antes de comer. Recomenda-se o uso de desinfetante para as mãos. Evite também lugares inundados. A Organização Mundial da Saúde destaca que águas costeiras ou do interior, inclusive piscinas em hotéis e spas, podem ser um risco de enfermidades transmitidas pela água. Rios e terrenos lamacentos não devem ser atravessados sem calçado apropriado e à prova d’água.
Em climas quentes, especialmente durante períodos de atividade física, a adição de sal à comida ou bebida pode evitar a perda de eletrólitos, desidratação e insolação. A Organização Mundial da Saúde recomenda levar uma solução de reidratação oral. Na falta desta, um substituto é misturar seis colheres de chá de açúcar e uma colher de chá de sal em um litro de água potável. Nas zonas de malária, tenha sempre mosquiteiros e vista roupa de mangas compridas e calças.
Qualquer corte ou abrasão deve ser imediatamente tratado com um creme ou pomada antisséptica. Prurido ou descamação entre os dedos dos pés também devem ser imediatamente tratados com remédio para pé de atleta ou antifúngicos. (Pomadas concentradas para pé de atleta, sem receita médica, também impedem a propagação de outros fungos.) Lave-se diariamente, mesmo que seja apenas com um pano úmido ou uma toalha. Pode-se colocar talco nas áreas sensíveis da pele. Se for alérgico a picadas de abelha ou mordidas de insetos, leve um estojo de injeção ou outros antídotos receitados. Leve consigo medicamentos suficientes e atualizados, lentes de contato, óculos, inclusive sobressalentes.
Conheça o seu grupo sanguíneo e leve consigo um cartão de doador de sangue ou outro cartão médico que indique isso claramente. Quem trabalha em regiões hostis pode usar uma pulseira ou um cartão laminado no pescoço, indicando o seu grupo sanguíneo e algum tipo de alergia. Uma pessoa alérgica a medicamentos, como a penicilina, deve sempre levar ou usar um cartão visível, pulseira, ou outra identificação para alertar o pessoal médico sobre a alergia. Em países com taxas especialmente altas de infecção por HIV, algumas embaixadas ocidentais mantêm bancos de sangue abertos a funcionários da embaixada e visitantes. Jornalistas podem ter a opção de doar sangue sabendo que o banco de sangue estará disponível para eles, se necessário. Esteja consciente dos riscos de contrair doenças sexualmente transmissíveis, inclusive AIDS.