Cidade do México, 17 de agosto de 2012 – As autoridades federais mexicanas devem assumir o controle da investigação e do ajuizamento de todos os casos de jornalistas assassinados e desaparecidos no estado de Veracruz, afirmou hoje o Comitê para a Proteção dos Jornalistas (CPJ). A investigação estadual sobre os assassinatos de vários jornalistas suscitou várias perguntas e preocupações, segundo a pesquisa do CPJ.
O procurador-geral de Veracruz, Amadeo Flores Espinosa, anunciou na quarta-feira que as autoridades haviam resolvido os assassinatos de dois fotojornalistas, de um ex-fotojornalista e de uma funcionária de um jornal da capital do estado, segundo as informações da imprensa. Em 3 de maio, os corpos de quatro vítimas foram encontrados desmembrados em sacos de plástico pretos que foram jogados em um canal de drenagem na cidade de Boca del Rio. Flores afirmou que o cartel Jalisco Nueva Generación, aliado do cartel de Sinaloa, foi o responsável. As autoridades mexicanas indicaram hoje que há oito suspeitos detidos pelo crime, informou a agência Associated Press.
Flores afirmou que os suspeitos detidos pelo quádruplo homicídio de maio confessaram ter assassinado os fotógrafos por que as vítimas supostamente, em colaboração com grupos do crime organizado, estavam envolvidas nos assassinatos de outros jornalistas. Ele não forneceu mais detalhes, não identificou as supostas vítimas e não respondeu a perguntas após fazer a declaração, disseram ao CPJ jornalistas locais. Seu gabinete não retornou os telefonemas do CPJ para que explicasse a afirmação. No passado, funcionários estaduais tentaram vincular jornalistas assassinados a grupos do crime organizado sem apresentar provas que apoiassem as acusações.
Autoridades federais que falaram com o CPJ sob a condição de anonimato disseram que suas análises das supostas confissões constataram que elas careciam dos dados necessários para processar os acusados. Em uma das declarações, disseram, o suspeito simplesmente afirmou que assassinou muita gente em Veracruz enquanto trabalhava para o cartel Nueva Generación. Em outra, um suspeito afirmou que alguns dos jornalistas foram assassinados por estarem envolvidos no assassinato de outros jornalistas. Os suspeitos não forneceram detalhes, como a identidade das vítimas ou a data dos assassinatos, e as autoridades federais disseram que a gravação dos interrogatórios demonstrou que os investigadores não pediram informações adicionais.
A única prova oferecida pelas autoridades estaduais, além das supostas confissões, foi a descoberta de documentos e cartões de crédito de uma das vítimas no porta-luvas do veículo que um dos suspeitos dirigia quando foi detido, de acordo com as informações da imprensa.
Na coletiva de imprensa de quarta-feira, Flores também anunciou que as autoridades resolveram outro assassinato de um jornalista. O procurador-geral do estado afirmou que testemunhas haviam identificado dois membros do cartel Los Zetas, que foram assassinados em um tiroteio com autoridades em junho, como responsáveis pelo sequestro do repórter e editor Víctor Báez Chino em 13 de junho. O corpo de Báez foi encontrado no dia seguinte, perto da principal praça de Xalapa, capital do estado de Veracruz. Flores não forneceu mais detalhes sobre o caso e não respondeu a perguntas.
“Estamos preocupados com a falta de detalhes plausíveis fornecidos pelas autoridades do estado de Veracruz para justificar a afirmação de que estes assassinatos foram solucionados”, afirmou em Nova York o coordenador sênior do programa das Américas do CPJ, Carlos Lauría. “Também nos preocupa que funcionários estaduais estejam manchando a reputação das vítimas sem oferecer nenhuma prova que respalde suas afirmações”.
Após três anos de campanha empreendida por jornalistas e grupos de defesa da liberdade de imprensa, o senado mexicano aprovou este ano uma histórica emenda constitucional que outorga às autoridades federais a jurisdição para processar crimes contra a imprensa. No entanto, a emenda constitucional não pode entrar em vigor até que o Congresso aprove leis secundárias para definir as responsabilidades das agências federais encarregadas de fazer cumprir a lei e proporcione a elas os recursos e capacitação necessários.
“Agora que a emenda constitucional para federalizar crimes contra a liberdade de expressão foi aprovada, o Congresso deve sancionar a legislação secundária para que ela entre em vigor e permita que as autoridades federais assumam o controle efetivo de todos os casos de jornalistas assassinados”, afirmou Lauría.
Veracruz, que é um campo de batalha entre os cartéis de Sinaloa e Los Zetas, é um dos estados mexicanos mais perigosos para a imprensa, segundo a pesquisa do CPJ. Ao menos oito jornalistas e um ex-jornalista que cobriam as áreas de polícia ou política foram assassinados desde março de 2011, muitas vezes em circunstâncias obscuras. Vários repórteres que cobrem estes temas, e pediram para não ter suas identidades divulgadas por medo de represálias, disseram ao CPJ que fugiram de Veracruz para outras áreas do país.
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O CPJ é uma organização independente sem fins lucrativos sediada em Nova York, e se dedica a defender a liberdade de imprensa em todo o mundo.