Nova York, 29 de setembro de 2006 – O Comitê para a Proteção dos Jornalistas (CPJ) está alarmado com as ameaças contra um proprietário de meios de comunicação e um proeminente colunista, ambos duros críticos do governo do presidente Nestor Kirchner. O CPJ exortou hoje as autoridades argentinas a denunciar as ameaças de imediato e a realizar uma investigação exaustiva.
Joaquín Morales Solá, colunista do diário La Nación e apresentador do programa semanal de notícias “Desde el llano” em uma televisão por cabo, disse ao CPJ que recebeu duas ligações ameaçadoras em seu escritório, na quinta-feira. “Isto é só o começo. A próxima você sentirá em seu corpo”, Morales contou ter ouvido do anônimo. “Pare se não quiser ver as raízes por baixo”, foi a mensagem do segundo telefonema.
As ligações ocorreram um dia depois de Kirchner responder publicamente a críticas de Morales Solá, ao ler um artigo de 1978 no qual o colunista elogiava o ex-ditador Jorge Videla. Solá explicou que o presidente se equivocou na citação. O colunista esclareceu que não escreveu o artigo, e que responderia a Kirchner em sua coluna de domingo.
Duas mensagens de correio eletrônico intimidadoras foram enviadas, na quarta-feira, à Editorial Perfil, a maior editora de revistas da Argentina. As mensagens, enviadas a diferentes endereços eletrônicos da empresa, estavam dirigidas ao CEO da Perfil, Jorge Fontevecchia, e a sua família, segundo informes da imprensa local. “Deixe de incomodar o governo nacional. Você conhece a história do pai que perdeu um filho… espero que isso não aconteça com você”, assinalou um dos e-mails. As mensagens chegaram de endereços eletrônicos diferentes e desconhecidos.
“Que linda região escolheu para viver e que linda região, também, para explodir uma bomba… Não incomode mais o presidente”, dizia o segundo correio eletrônico. A Editorial Perfil informou que Fontevecchia também recebeu, esta semana, ameaças telefônicas contra ele e seus filhos.
A Editorial Perfil impetrou, em julho, uma ação judicial de injunção contra Kirchner, alegando que o governo discrimina a empresa jornalística em represália por seu trabalho informativo crítico. A Perfil argumentou que as revistas semanais Noticias e Fortuna, e o semanário dominical Perfil, não recebem publicidade governamental e que seus jornalistas não têm acesso a fontes oficiais e eventos.
As ameaças ocorreram em um contexto de crescente intolerância do governo perante a crítica dos meios de comunicação. Recentemente, Kirchner e sua esposa, a senadora Cristina Fernández, tentaram desacreditar o trabalho de jornalistas que criticaram leis que permitem a troca do destino de gastos do pressuposto nacional, por parte do Executivo, sem a aprovação do Congresso.
“Estamos alarmados com as ameaças contra Fontevecchia y Morales Solá”, ressaltou o Diretor-executivo do CPJ, Joel Simon. “Instamos as autoridades argentinas a conduzir uma pronta investigação, apresentar os responsáveis e puni-los com todo o peso da lei”.
O CPJ é uma organização independente, sem fins lucrativos, que se dedica a defender a liberdade de imprensa em todo o mundo