Rio de Janeiro, 19 de maio de 2020 – As autoridades brasileiras devem investigar de forma rápida e minuciosa o assassinato do jornalista Leonardo Pinheiro, determinar se o homicídio está relacionado às suas reportagens e levar os responsáveis à justiça, afirmou hoje o Comitê para a Proteção dos Jornalistas (CPJ).
Na tarde de 13 de maio, homens não identificados em um carro atiraram e mataram Pinheiro, dono de A Voz Araruamense, uma página no Facebook onde publicava reportagens locais na cidade de Araruama, no estado do Rio de Janeiro, segundo as informações da imprensa.
Pinheiro estava entrevistando pessoas quando foi baleado e já estava morto quando a polícia chegou, segundo as reportagens.
Pinheiro também havia declarado recentemente a sua intenção de concorrer à Câmara de Vereadores de Araruama pelo partido Patriota, em oposição ao atual governo municipal, de acordo com um comunicado da liderança estadual do partido.
“As autoridades brasileiras devem investigar todos os possíveis motivos para a morte do jornalista comunitário Leonardo Pinheiro e determinar se está relacionada às suas reportagens”, disse em Nova York a Coordenadora do Programa para a América Central e do Sul do CPJ, Natalie Southwick. “Os repórteres locais são uma voz essencial para as comunidades marginalizadas do Brasil, e aqueles que tentam silenciá-las devem ser levados à justiça”.
Um jornalista local, que conheceu Pinheiro pessoalmente e pediu para não ser identificado por razões de segurança, disse por telefone ao CPJ que, até onde sabiam, Pinheiro não havia recebido nenhuma ameaça recentemente.
O jornalista disse que Pinheiro “foi morto na frente de um monte de gente, um monte de gente viu [o assassinato]. Mas é cidade pequena, todo mundo tem medo de falar”, e disse que temia que o caso “fique que nem o caso dos dois jornalistas lá de Maricá, que foram assassinados há mais ou menos um ano”, referindo-se aos assassinatos de Robson Giorno e Romário Barros em maio e junho de 2019, respectivamente.
Em A Voz Araruamense, Pinheiro publicou recentemente entrevistas com pessoas dos bairros mais pobres de Araruama, falou sobre a pandemia do COVID-19 e comentou sobre a política local, de acordo com a análise da página feita pelo CPJ. Em 2019, ele também contribuiu com reportagens sociais semelhantes ao Fala Araruama, outra página do Facebook, disse um representante dessa página ao CPJ.
Outro jornalista local, que também preferiu não ser identificado, disse ao CPJ por telefone que, desde o assassinato de Pinheiro, os jornalistas de Araruama temem que também possam ser atacados. O jornalista disse que os repórteres agora estão mais cautelosos ao informar das ruas e relutam em seguir as dicas que exigem que eles reportem de uma área específica.
Ambos os jornalistas disseram ao CPJ que o ataque pode ter sido uma emboscada, pois Pinheiro recebeu uma ligação naquela tarde pedindo que fosse ao bairro onde foi morto.
O CPJ ligou para a 118ª Departamento da Polícia Civil, responsável pela investigação, segundo informações da imprensa, mas a pessoa que atendeu o telefone e se identificou apenas como “Erick” disse que todos os pedidos de informações devem ser feitos à assessoria de imprensa da Polícia.
A assessoria enviou ao CPJ uma curta declaração dizendo que a polícia abriu uma investigação sobre a morte de Pinheiro, uma análise forense foi feita na cena do crime e que a investigação em andamento é confidencial.