Cidade do México, 24 de setembro de 2018 – As autoridades mexicanas devem realizar imediatamente uma investigação rigorosa e confiável sobre o assassinato do repórter Mario Leonel Gómez Sánchez no estado de Chiapas, no sul do México, informou hoje o Comitê para a Proteção dos Jornalistas (CPJ).
Gómez, repórter do jornal local El Heraldo de Chiapas, foi baleado no dia 21 de setembro em frente à sua casa, na cidade de Yajalón, aproximadamente às 17h00. Ele foi morto por dois pistoleiros não identificados que estavam em uma motocicleta, de acordo com informações da imprensa e do diretor de notícias do El Heraldo, José Ramón Gallegos.
“As autoridades mexicanas devem fazer tudo o que estiver ao seu alcance para identificar os agressores de Mario Gómez e determinar se existe uma relação entre o assassinato e seu trabalho como jornalista”, disse Jan-Albert Hootsen, representante do CPJ no México. “Os jornalistas no México continuarão sendo vítimas de violência letal enquanto as mortes de jornalistas permanecerem impunes”.
Em um vídeo divulgado on-line ontem pela mídia estadual e nacional, os agressores podem ser vistos se aproximando do repórter em uma motocicleta e parando brevemente a alguns metros de Gómez. Um dos homens dispara vários tiros com uma arma, e depois fogem da cena. Gallegos disse ao CPJ que Gómez morreu pouco depois no hospital.
Héctor Flores, porta-voz da Procuradoria Geral do Estado de Chiapas, enviou ao CPJ, no dia 21 de setembro, um pequeno comunicado publicado no site do gabinete, no qual as autoridades condenaram o ataque e disseram que uma investigação havia sido aberta. Em uma segunda declaração, divulgada em 22 de setembro, o procurador-geral do estado disse que o trabalho do repórter como jornalista era a principal linha de investigação. De acordo com a mesma declaração, a polícia encontrou as capsulas de seis balas de calibre 9 mm na cena do crime. Acrescentou que o repórter foi atingido por quatro tiros.
O gabinete do procurador-geral do estado informou à imprensa hoje que um suspeito do sexo masculino havia sido preso. Não foram fornecidos detalhes adicionais sobre a identidade e um possível motivo. A Procuradoria Geral do Estado não respondeu a várias ligações telefônicas do CPJ desde 24 de setembro.
Gómez, de 41 anos, foi correspondente do El Heraldo de Chiapas em Yajalón por oito anos, disse Gallegos ao CPJ. Ele cobriu notícias gerais, incluindo crime e violência na região. Segundo Gallegos, o repórter não havia trabalhado no jornalismo antes de ingressar no El Heraldo.
Gallegos disse ao CPJ que Gómez havia recentemente coberto o crime e a segurança na região de Yajalón. Ele também havia escrito histórias sobre acontecimentos políticos após as eleições gerais do 1º de julho no México, que incluíam eleições para governador de Chiapas e prefeitos no estado. O CPJ conseguiu recuperar várias histórias de autoria de Gómez nos últimos meses, incluindo um artigo sobre um suposto homicídio em 11 de setembro e outro sobre uma família que sobreviveu a um ataque de desconhecidos em 29 de junho, ambos em Yajalón.
Em junho de 2016, Gómez relatou ter recebido ameaças de morte no Facebook depois de publicar um artigo sobre acusações de suposta corrupção contra o deputado federal Leonardo Rafael Guirao. Em entrevista ao grupo de liberdade de imprensa Artigo 19, o repórter disse que o motorista do congressista, conhecido na região como ‘El Francotirador’ (‘O Franco-atirador’), escreveu na rede social em 15 de junho de 2016, que ele iria “explodir sua cabeça”. Gómez também contou que, no dia seguinte, um indivíduo desconhecido o avisou que um grupo de sete homens não identificados planejava sequestrá-lo.
O CPJ não conseguiu obter informações de contato de Leonardo Rafael Guirao.
Em 25 de junho de 2016, Gómez informou as ameaças contra ele ao procurador-geral do estado de Chiapas, Raciel López Salazar. A irmã do repórter, Nancy Gómez, disse ao jornal El Universal em 21 de setembro que as autoridades estaduais lhe forneceram proteção policial por três meses após as ameaças relatadas, mas que elas nunca foram devidamente investigadas. Ela também afirmou que Gómez não saiu mais de sua casa à noite depois de receber as ameaças de junho de 2016.
Mario Gómez havia recebido ameaças e teve proteção policial por algum tempo, confirmou Gallegos, diretor de notícias do El Heraldo, ao CPJ. Gallegos informou ao CPJ que não sabia de nenhuma ameaça mais recente contra Gómez, mas ressaltou que a região de Yajalón, nos últimos meses, viu um aumento na violência fatal. “As gangues de narcotráfico têm sido cada vez mais ativas nessa área”, disse ele. “Mario me disse que a situação em Yajalón é tensa. Várias pessoas foram encontradas mortas lá nos últimos meses.”
Ricardo Sánchez Pérez del Pozo, que chefia o Ministério Público Federal para Atenção aos Crimes Cometidos Contra a Liberdade de Expressão (FEADLE), confirmou ao CPJ, em 22 de setembro, que havia aberto uma investigação sobre o assassinato.
Um porta-voz do Mecanismo Federal para a Proteção dos Defensores dos Direitos Humanos, que concede aos jornalistas proteção sancionada pelo governo federal, disse ao CPJ em 22 de setembro que Gómez não era beneficiário da instituição. Ele pediu anonimato para discutir o assunto livremente.
O México é o país mais letal do Hemisfério Ocidental para jornalistas. Pelo menos nove repórteres foram mortos no México em 2018, segundo os dados do CPJ, que determinou que pelo menos três dos jornalistas assassinados em 2018 foram alvo de represálias diretas por seu trabalho.
Nota do editor: O último parágrafo do texto foi atualizado para corrigir o número de repórteres mortos no México em 2018.