São Paulo, 18 de agosto de 2018 – O Comitê para a Proteção dos Jornalistas (CPJ) condenou hoje um ataque ao repórter brasileiro Adenilson Miguel e pediu à polícia do estado de Minas Gerais que assegure a segurança do jornalista, identifique os responsáveis e os leve à Justiça.
Infratores não identificados, por volta de 1h00 de 9 de agosto, jogaram fogos de artifício na casa de Miguel em Bandeira do Sul e deixaram uma nota com uma ameaça de morte, contou o repórter ao CPJ por telefone. O ataque ocorreu várias horas depois de ele compartilhar informações em grupos do WhatsApp sobre suposta corrupção dentro do gabinete do prefeito.
“Os repórteres locais no Brasil desempenham um papel vital na revelação da corrupção e na manutenção de suas comunidades informadas e, muitas vezes, enfrentam retaliações violentas por fazer exatamente isso”, disse em Nova York a coordenadora da América Central e do Sul do CPJ, Natalie Southwick. “As autoridades de Minas Gerais precisam agir rapidamente para garantir a segurança de Adenilson Miguel e levar à justiça os responsáveis por este ataque”.
O assessor do prefeito disse ao CPJ que o caso era uma questão de polícia e se recusou a fazer mais comentários.
Miguel disse acreditar que o ataque destinava-se a impedi-lo de publicar uma reportagem sobre a alegada corrupção no Vox, o jornal independente que ele escreve e publica.
O jornal, fundado por Miguel há quatro anos, sai duas vezes por mês e é distribuído em sete cidades do sul de Minas Gerais, um dos estados mais populosos do Brasil.
Miguel falou ao CPJ que planejava publicar uma reportagem sobre os funcionários da prefeitura serem pagos por horas extras sem fazer nenhum trabalho extra. O jornalista disse que compartilhou comprovantes de salário mostrando a discrepância de horas no grupo WhatsApp em 8 de agosto, antes do ataque.
Naquela noite, Miguel disse que ouviu uma série de explosões em sua garagem no andar de baixo.
“Eu estava com medo, havia todo esse barulho, eu pensei que era a rede de energia explodindo”, contou ele ao CPJ por telefone em 16 de agosto. “Eu desci as escadas e havia muita fumaça e um cheiro acre. A polícia veio e eles encontraram um pedaço de papel com uma ameaça de morte”.
A nota dizia: “Você vai morrer” e incluía um insulto homofóbico, disse o jornalista ao CPJ.
Uma autoridade policial do estado de Minas Gerais, que não quis fornecer seu nome nem posto, falou ao CPJ que a polícia havia aberto uma investigação sobre o ataque, mas se recusou a discutir o caso com o CPJ.
A ameaça não é a primeira que Miguel recebe, disse ele ao CPJ. Em maio, um amigo o avisou que o mesmo prefeito estava zangado com ele por sua cobertura política e poderia tomar medidas não especificadas.
Miguel contou que não denunciou a ameaça de maio à polícia: “Eu senti que, como eles me conhecem, não chegaria a nada porque esta é uma cidade pequena e todos se conhecem”.
Agora, o jovem de 33 anos está preocupado que uma semana após o incidente nada tenha sido feito.
Miguel, em 16 de agosto, disse que a polícia não fez nenhuma prisão.
Ele também falou que tem medo por sua segurança e planeja encerrar temporariamente o Vox.
“Eu evito sair à noite e durante o dia eu não saio sozinho”, contou ele. “Nós não temos apoio, ninguém está fazendo nada, eu me sinto como um refém.”