São Paulo, 29 de setembro de 2016 – Evaldo Oliveira, fundador e redator do jornal local Voz das Cidades, foi levado às pressas ao hospital no dia 26, após ser baleado por um agressor não identificado, segundo reportagens e fontes locais. O Comitê para a Proteção dos Jornalistas (CPJ, na sigla em inglês) apelou hoje as autoridades brasileiras para garantir a segurança de Oliveira e assegurar que seus agressores sejam levados à justiça.
Oliveira, 49, distribuía jornais em Franco da Rocha, cidade 41 quilômetros ao norte de São Paulo, por volta das 19h30 da segunda-feira, quando dois homens de motocicleta pararam próximo a ele, de acordo com uma testemunha entrevistada pelo programa Brasil Urgente.
O passageiro da moto pediu um jornal a Oliveira antes de sacar a arma e efetuar o disparo. O projétil acertou o jornalista no ombro. O criminoso ainda tentou efetuar mais disparos, mas sua arma falhou e a dupla fugiu, disse a testemunha.
Oliveira desmaiou e foi levado ao hospital, onde passou por cirurgia. O CPJ não conseguiu obter informações sobre o seu estado.
“Jornalistas brasileiros que relatam problemas locais e que trabalham em cidades pequenas continuam a enfrentar as piores taxas de violência da região,” informou de Nova Iorque Carlos Lauría, coordenador do programa sênior do CPJ nas Américas. “Nós cobramos das autoridades que investiguem de forma ágil, que tragam à justiça os responsáveis pelo ataque e que garantam que Evaldo Oliveira possa retornar com segurança ao seu trabalho jornalístico. “
Outra testemunha, que declarou trabalhar com Oliveira na distribuição dos jornais, e que se identificou ao Brasil Urgente somente como Eduardo, disse que eles foram seguidos por homens desconhecidos enquanto trabalhavam.
“Nós começamos a distribuir os jornais por volta das 13h, e começamos a nos sentir em perigo, ” declarou Eduardo no famoso programa de TV. “Estávamos sendo filmados a tarte toda. “
Um membro da família de Oliveira que não se identificou teria informado aos jornais locais que o jornalista fora ameaçado por relatar problemas da gestão municipal, e por criticar as autoridades locais de Franco da Rocha e de Caieiras, dois dos 39 municípios que constituem a área metropolitana de São Paulo.
“Ele estava assustado e raramente saía de casa, ” declarou o familiar.
O modesto Voz das Cidades– algumas edições contavam com não mais que oito páginas – geralmente inclui reportagens de interesse do público local, onde cobra das autoridades a pavimentação e manutenção de ruas e o incremento das verbas destinadas aos postos de saúde. Na página do jornal no Facebook também há mensagens antidrogas e vídeos mostrando os problemas do município, como ruas enlameadas e esgotos a céu aberto. O lema do jornal é “Nosso foco é mostrar tudo. “
Colegas da área disseram ao CPJ que Oliveira não era jornalista em tempo integral e que seu jornal era publicado de forma intermitente, geralmente próximo às eleições. Este ataque ocorreu a menos de uma semana das eleições para prefeito e vereador.
“Não há dúvidas de que ele contrariou um determinado grupo político e por isso foi atacado, ” disse ao CPJ um editor local que conhece Oliveira, mas pediu para que não fosse identificado, por medo de represálias. “Isto não foi em decorrência de algo que ele publicou esta semana ou semana passada, é uma consequência do que ele vinha publicando. Neste sentido, foi algo completamente previsível. “
Embora tenha sido feito algum progresso no combate à impunidade nos crimes contra jornalistas, a imprensa brasileira continua a sofrer sérias ameaças. No ano passado, o Brasil foi o país mais mortífero para a imprensa em todo o continente. Segundo pesquisa do CPJ, 39 jornalistas foram mortos em serviço desde 1992. Destes, 37 foram assassinados em decorrência da profissão. O CPJ continua a investigar a motivação por trás de mais 10 assassinatos.
[Atualização : Este alerta foi atualizado para mostrar que o nome do jornalista é Evaldo Oliveira.]