São Paulo, 1º de maio de 2015 – Ao menos cinco jornalistas brasileiros ficaram feridos na quarta-feira enquanto cobriam confrontos entre a polícia e professores em greve no estado do Paraná, segundo informações da imprensa e repórteres locais. O Comitê para a Proteção dos Jornalistas (CPJ) condena os ataques e insta as autoridades brasileiras a garantir que os perpetradores serão responsabilizados.
“Os jornalistas devem poder informar livremente sobre assuntos sensíveis sem temer retaliação física”, disse em Nova York o coordenador sênior do programa das Américas, Carlos Lauría. “Instamos as autoridades brasileiras a investigar completamente estes ataques e a garantir a segurança de toda a mídia na cobertura de protestos públicos”.
Os professores de Curitiba, capital do estado do Paraná, têm estrado e saído do estado de greve desde fevereiro, contra alterações na forma como seu sistema de pensão funciona, informa a imprensa. Na quarta-feira, a polícia isolou a área fora o edifício da assembleia estadual em Curitiba para evitar que os professores ficassem próximos o suficiente para interromper uma votação sobre os planos, segundo reportagens. Mais de 170 pessoas, incluindo policiais, jornalistas e manifestantes, ficaram feridas por canhões de água e balas de borracha no confronto que se seguiu entre a polícia e os professores, segundo a imprensa.
“Os professores se alinharam em frente ao conjunto, e foi muito tenso pelo grande número de policiais” disse ao CPJ Gustavo Vidal, diretor-executivo do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Paraná. “Nós não sabíamos o que estava acontecendo, mas todos nós sentimos o gás. Em seguida, começaram as balas de borracha e todo mundo correu”.
Pelo menos três jornalistas – Rafael Passos, cinegrafista do canal de TV local Catve, Germano Assad, repórter da edição brasileira do jornal espanhol El País, e o freelance André Rodrigues – foram atingidos por balas de borracha, informou a Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) em um comunicado. Henry Nukkeim fotógrafo do jornal curitibano Gazeta do Povo ficou ferido quando uma bomba de efeito moral explodiu perto dele, disse a Abraji.
O cinegrafista da TV Bandeirantes Luiz Carlos de Jesus foi mordido na coxa por um cão policial na entrada do edifício da assembleia, de acordo com imagens filmadas por Jesus e reportagens. O jornalista buscou tratamento em um hospital local.
O governo do estado divulgou um comunicado no qual atribuiu a violência ao “radicalismo e a irracionalidade de pessoas mascaradas armados com pedras, bombas caseiras, paus e barras de ferro que foram usados contra a polícia.” Pelo menos 13 pessoas foram presas e uma investigação mais ampla foi aberta, disse o chefe de polícia Julio Reis, segundo a agência de notícias do estado do Paraná. A Abraji e o Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Paraná condenaram os ataques.
Os jornalistas que cobrem as manifestações no Brasil foram atacados e perseguidos pela polícia e por manifestantes nos últimos anos, mostra a pesquisa do CPJ. Em junho de 2014, o CPJ documentou ataques contra jornalistas que cobriam os protestos contra a Copa do Mundo, em São Paulo. Em 2013, dezenas de repórteres relataram terem sido atacados ou presos enquanto cobriam protestos contra aumentos de tarifas de transporte público, de acordo com reportagens da imprensa. Com a aproximação dos Jogos Olímpicos de 2016, o CPJ insta as autoridades brasileiras a assegurar que as salvaguardas estejam em vigor para que os jornalistas que cobrem as manifestações de rua possam fazê-lo livremente e sem medo de represálias.
- Para mais informações e análises, visite Ataques à Imprensa