Nova York, 20 de abril de 2011 – O Comitê para a Proteção dos Jornalistas (CPJ) está alarmado com a série de prisões recentes de jornalistas do Centro de Información Hablemos Press, de Havana, que impediu o meio de comunicação de informar sobre o Congresso do Partido Comunista realizado esta semana na capital cubana. O CPJ instou o governo cubano a frear a constante perseguição a jornalistas independentes e a permitir que cumpram livremente seu trabalho informativo.
Nas últimas três semanas, ao menos 10 correspondentes do Hablemos Press, conhecido por seu trabalho informativo sobre direitos humanos e atividades da oposição, foram detidos em delegacias de polícia, sob prisão domiciliar ou ameaçados de prisão. Um jornalista, Enyor Díaz Allen, foi atacado por simpatizantes do governo e depois detido pela polícia por 4 dias. As prisões coincidem com o Sexto Congresso do Partido Comunista, que começou no sábado em Havana.
Esta escalada de detenções de curto prazo de jornalistas durante o Congresso do Partido Comunista é uma evidência de que a atitude do governo cubano com relação à imprensa independente não mudou, apesar das libertações de jornalistas presos nos últimos meses”, afirmou o coordenador sênior do programa das Américas do CPJ, Carlos Lauría. “Instamos os funcionários públicos cubanos a pôr fim às detenções e ao assédio de jornalistas”.
Apesar da marcante libertação neste mês de Albert Santiago Du Bouchet Hernández, último jornalista encarcerado em Cuba, o CPJ e organizações locais de direitos humanos têm observado um aumento nos casos de perseguição de baixa intensidade – detenções de curto prazo, prisões domiciliares, campanhas de difamação e intimidação – contra integrantes da imprensa independente cubana.
O diretor do Hablemos Press, Roberto de Jesús Guerra Pérez, disse ao CPJ em uma entrevista na terça-feira que a data escolhida para as detenções foi óbvia. “O regime tem medo que ocorra um levante popular durante o Congresso do partido e tenta evitar que os jornalistas informem sobre o que está acontecendo”, declarou Guerra.
Segundo as pesquisas do CPJ, 10 jornalistas do Hablemos Press enfrentaram prisão e intimidação nas últimas três semanas:
- O correspondente em Guantánamo Enyor Díaz Allen, de 28 anos, foi preso na sexta-feira junto com o ativista pró-democracia Yoandris Beltrán Gamboa, e mantido preso até a tarde de terça-feira, disse Díaz ao CPJ. Enquanto caminhava na noite de sexta-feira, dois desconhecidos se aproximaram, gritaram slogans pró-castristas e o agrediram. Díaz se defendeu, mas teve o braço fraturado e ferimentos na cabeça que necessitaram de sutura. Vinte minutos depois, vários agentes da polícia colocaram fim à confusão. Díaz foi levado ao hospital pela polícia. Depois de receber tratamento, ele foi conduzido por agentes de segurança do Estado à unidade de polícia Parque 24, onde permaneceu detido por quatro dias. Díaz foi acusado de agressão física e seus atacantes saíram em liberdade, observou Guerra.
Díaz tem noticiado sobre excessos da polícia, educação e atividades da oposição em Guantánamo, e também é integrante do movimento jovens pela democracia. Segundo Guerra, uma tática comum das autoridades cubanas para intimidar os críticos é incentivar os militantes do governo a atacarem os dissidentes que, depois, são presos. Díaz disse ao CPJ acreditar que a agressão teve relação com seu trabalho jornalístico. - Raúl Arias Márquez e Elier Muir Ávila, correspondentes nas províncias de Morón e Ávila, foram detidos e ameaçados em 5 e 6 de abril por agentes da polícia e da segurança do Estado na casa de Márquez, onde os jornalistas costumavam se reunir. Os dois estavam trabalhando há cerca de dois meses para o Hablemos Press e haviam noticiado sobre uma briga de estudantes que deixou dois mortos.
- Em 31 de março, o correspondente do Hablemos Press Idalberto Acuña Carabeo foi preso em sua casa, em Havana, por agentes da segurança do Estado que exigiam que ele entregasse fotografias que havia tirado durante um protesto trabalhista horas antes. Quando Acuña se negou a cumprir a ordem, o levaram para uma unidade de polícia, de onde foi libertado após 24 horas de interrogatório e ameaças, informou a Hablemos Press.
- A casa, em San José de las Lajas, de Luis Roberto Arcia Rodríguez, correspondente do Hablemos Press na província de Mayabeque, foi sitiada por 12 horas em 16 de abril para impedir que viajasse à Havana para reunir-se com outros jornalistas durante o Congresso do Partido Comunista, informou Guerra. Segundo ele, oito agentes de segurança do Estado e a polícia impediram que o jornalista saísse de sua casa.
- A casa de Sandra Guerra Pérez, correspondente do Hablemos Press em Melena del Sur, foi sitiada por mais de 20 agentes da polícia e de segurança do Estado em 16 de abril. Os agentes impediram que a jornalista saísse de sua casa até a tarde de 18 de abril. Sandra Guerra havia noticiado sobre uma série de incêndios nos campos de cana na região, além da transformação de escolas de campo abandonadas em prisões. Segundo Roberto Guerra, a prisão domiciliar teve como objetivo impedir que Sandra Guerra viajasse para Havana durante o congresso comunista.
- Em 15 de abril, dois agentes de segurança do Estado foram à sede do Hablemos Press em Havana e avisaram quatro jornalistas, incluindo Roberto Guerra, que seriam detidos se saíssem de suas casas durante o congresso. Os agentes advertiram Guerra que ele poderia ser preso pelos vídeos que havia postado no site do Hablemos Press que mostram vítimas da repressão oficial.