Em fevereiro de 2023, o jornalista holandês Bram Ebus, o cinegrafista Andrés Cardona e o fotógrafo Alex Rufino, ambos colombianos, foram ameaçados pela Polícia Militar (PM) de Japurá, no estado brasileiro do Amazonas, enquanto faziam uma reportagem sobre mineração ilegal na Amazônia para o Amazon Underworld, projeto investigativo sobre crime e corrupção na região.
Em 6 de fevereiro, o trio, o capitão do barco e sua esposa deixaram La Pedrera, na Colômbia, para viajar pelo rio Caquetá até a foz do rio Puruê, no Brasil. Eles passavam a noite em uma draga de mineração quando um barco da Polícia Militar também chegou para passar a noite na draga. Oficiais da PM disseram que a mineração no rio é ilegal, de acordo com Ebus, que se comunicou com o CPJ por chamada de vídeo, e-mail e mensagens de texto. Ebus disse que a polícia estava procurando um suposto criminoso que teria atirado fatalmente no operador de outra draga e roubado meio quilo (cerca de uma libra) de ouro.
“Senti que poderíamos ter problemas se nos identificássemos como jornalistas, porque percebi que algo estranho estava acontecendo, já que a PM passava a noite em uma draga de mineração ilegal, então disse a eles que era antropólogo (o que sou) e que estávamos em trânsito”, explicou Ebus.
Ebus, principal jornalista e coordenador de pesquisa do Amazon Underworld, é um premiado jornalista investigativo que vive em Bogotá, Colômbia, há 10 anos. Ele também foi bolsista da Rainforest Investigations Network do Pulitzer Center. Cardona e Rufino são freelancers que trabalharam no projeto Amazon Underworld.
Em 7 de fevereiro, os jornalistas continuaram ao longo do rio entrevistando garimpeiros, que lhes disseram que a PM recebe pagamentos de 30 gramas (uma onça) de ouro por mês de cada draga para protegê-los contra dissidentes das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC). O Brasil lançou uma operação militar para remover os guerrilheiros em 2021, mas um confronto em abril de 2023 entre dissidentes das FARC e homens armados desconhecidos, que deixou vários guerrilheiros mortos, indica que eles continuam presentes na região.
Em 8 de fevereiro, um policial usando balaclava (também conhecida como touca ninja) e empunhando uma arma automática e outro policial que parecia ser seu superior abordaram os jornalistas enquanto preparavam o café da manhã na margem do rio onde estavam ancorados. A dupla perguntou agressivamente a Ebus se eles eram de um canal de TV, porque os jornalistas haviam tirado fotos e gravado vídeos.
De acordo com Ebus, o policial que parecia estar no comando insinuou que ninguém saberia se Ebus fosse ferido ou morto.
Os jornalistas obedeceram quando o policial usando a touca ninja ordenou que apagassem o conteúdo de dois cartões de memória. A polícia confiscou três outros cartões de memória e dois adaptadores. Depois que os policiais foram embora, os jornalistas decidiram abortar a viagem.
Ebus relatou que eles seguiram o protocolo de segurança do grupo, alertando os colegas que monitoravam a viagem por meio de um dispositivo que rastreava sua localização e solicitando que entrassem em contato com a polícia de Japurá e outras autoridades, como o Ministério da Justiça e Segurança Pública e as embaixadas da Holanda e da Colômbia no Brasil.
Três horas depois, Ebus disse que os mesmos policiais militares, em um barco, pararam a embarcação dos jornalistas no meio do rio para devolver os cartões de memória e os adaptadores. Os policiais os alertaram sobre o risco de piratas e disseram que o suposto assassino ainda estava foragido. Ebus revelou à polícia que eles estavam voltando para a Colômbia.
Também em 8 de fevereiro, a Polícia Militar do estado do Amazonas enviou uma mensagem de texto — uma declaração explicando suas interações com os jornalistas que, segundo Ebus, continha inverdades — à editora brasileira do projeto Amazon Underworld, que registrou boletim de ocorrência online sobre o incidente. O CPJ enviou mensagens de texto e de e-mail para a assessoria de imprensa da PM do Amazonas, mas não obteve uma resposta imediata.