Nova Iorque, 21 de julho de 2022 — As autoridades angolanas devem investigar exaustivamente todas as instâncias de assédio a jornalistas antes das eleições de 24 de agosto no país, e assegurar que os membros da imprensa possam cobrir a campanha em segurança, disse quinta-feira o Comité para Proteção de Jornalistas (CPJ).
Desde 1 de julho, pelo menos três jornalistas foram hostilizados ou ameaçados durante a cobertura dos eventos da campanha, de acordo com as reportagens dos meios de comunicação social e dos jornalistas que falaram com o CPJ.
” Tendo em conta que falta apenas um mês para as eleições e as tensões políticas aumentam, os líderes políticos em Angola devem comprometer-se publicamente a proteger a liberdade de imprensa e assegurar que os seus apoiantes façam o mesmo”, disse Angela Quintal, coordenadora do programa para a África do CPJ, em Durban, África do Sul. “Os repórteres devem ter livre acesso aos comícios e eventos eleitorais, e devem poder trabalhar em segurança e sem serem ameaçados ou prejudicados”.
A 1 de julho, apoiantes do partido governista Movimento Popular para a Libertação de Angola (MPLA) assediaram jornalistas na cobertura de um comício do partido da oposição Aliança Patriótica Nacional no subúrbio de Viana, a capital, de acordo com reportagens da media e com esses jornalistas, que falaram com o CPJ.
Um homem vestindo uma t-shirt do MPLA gritou com Isabel Makitoko, repórter da emissora privada de notícias online TV Maiombe, dizendo que ela não estava autorizada a filmar na área, e lançou-se para a atacar, segundo António Sapalo, repórter do website privado de notícias Correio da Kianda, que estava no local, e falou com o CPJ numa entrevista telefónica.
O homem tentou esbofetear Makitoko na cara, mas Sapalo colocou-se entre eles, momento em que os apoiantes do MPLA lhe esmurraram o braço e as costas, empurrando-o, disse ele.
Sapalo perguntou ao homem se ele não tinha vergonha de tentar agredir uma mulher, mas o homem respondeu que não tinha qualquer problema em fazê-lo, disse Sapalo. Makitoko disse que o homem também ameaçou partir-lhe o telefone.
Capita Inga, um editor do website privado de notícias TV N’Zinga que estava no local, disse ao CPJ por telefone que ele e os seus colegas estavam claramente identificáveis como jornalistas por causa dos seus coletes de imprensa, cartões de imprensa, e câmaras com os logótipos de seus meios de comunicação.
O operador de câmara da TV Maiombe, Amândio Silva, disse ao CPJ por aplicativo de mensagens que, embora não tenha sido atacado, a situação era “muito ameaçadora”. Ele disse que a polícia simplesmente assistiu e não interveio, alegando que estava esperando ordens superiores.
O porta-voz do MPLA, Rui Falcão, disse ao CPJ via aplicativo de mensagens que não tinha conhecimento de nenhum incidente envolvendo militantes do MPLA em Viana e duvidava de que estivessem envolvidos, acrescentando que “qualquer um pode vestir uma camisa do MPLA, mas que todos os militantes do MPLA estão sujeitos às regras de Estado e devem ser julgados se os desrespeitarem”.
Separadamente, em um comício eleitoral do partido da oposição União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA), em 16 de julho, seguranças do líder do partido Adalberto Costa Júnior agarraram com brutalidade o jornalista Wilson Capemba, segundo o jornalista, que falou ao CPJ por telefone e postou sobre o incidente no Facebook.
“Fui segurado pelo pescoço, braços, cintura e pernas. Fiquei completamente imobilizado até que o líder do partido, Adalberto Júnior, gritou para seus seguranças para me deixarem ir”, disse Capemba, repórter da emissora Rádio Ecclésia, propriedade da Igreja Católica Romana, ao CPJ.
Adalberto Júnior pediu desculpas e concedeu-lhe a entrevista, disse o jornalista, acrescentando que, mesmo estando ileso, sentiu-se “tão abalado que não conseguiu entrevistar devidamente o líder da oposição”.
O secretário-geral da UNITA, Álvaro Daniel, disse ao CPJ em entrevista por telefone que os agentes de segurança não tinham intenção de magoar Capemba, dizendo que ele foi “largado assim que foi identificado como jornalista e teve sua entrevista”.
Quando o CPJ ligou para o porta-voz da polícia Nestor Goubel, ele disse que não tinha informações suficientes sobre os ataques para comentar.