Nova Iorque, 8 de fevereiro de 2022 — As autoridades da Guiné-Bissau devem investigar minuciosamente o mais recente ataque à emissora Radio Capital FM, garantir a segurança do seu pessoal, e trazer os responsáveis à justiça, disse terça-feira o Comité para Proteção de Jornalistas (CPJ).
Por volta das 10 da manhã de segunda-feira, um grupo de cerca de quatro homens não identificados disparou armas contra a sede da emissora privada em Bissau, a capital, e depois invadiu o local e saqueou-o, de acordo com reportagens dos media, o apresentador de programas da Rádio Capital FM, Sabino Santos, e o proprietário e director Lassana Cassamá, que falaram com o CPJ em entrevistas telefónica e através de um aplicativo de mensagens.
Os atacantes, alguns em uniformes militares e outros em roupas civis, dispararam e destruíram os equipamentos de radiodifusão em todo o estúdio, de acordo com essas fontes.
Os homens discutiram abertamente se deviam matar os funcionários da estação, mas um deles ordenou que ninguém fosse ferido, relataram Santos e Cassamá. Os membros do pessoal da emissora conseguiram fugir, mas vários deles sofreram ferimentos enquanto escapavam por cima do muro de dois metros que circunda o edifício, disseram eles.
Segundo Santos e Cassamá, um agente da polícia que protegia a estação fugiu assim que o ataque começou.
A estação reporta frequentemente de forma crítica sobre o governo do Presidente Umaro Sissoco Embaló, e naquela manhã havia apresentado um programa com chamadas para os ouvintes comentarem a tentativa fracassada de golpe de Estado no país a 1 de fevereiro, disse Santos.
Foi destacada polícia para a estação após um ataque em julho de 2020, quando homens armados não identificados quebraram o seu equipamento de transmissão. As autoridades não identificaram quaisquer suspeitos nesse atentado, informaram Santos e Cassamá ao CPJ.
“As autoridades da Guiné-Bissau devem assegurar que, desta vez, os autores do ataque à Rádio Capital FM e do terrorismo contra os seus jornalistas e trabalhadores da comunicação social sejam detidos e responsabilizados”, disse Angela Quintal, coordenadora do programa para a África do CPJ. “A impunidade contínua em agressões a jornalistas na Guiné-Bissau deu a bandidos armados licença para, mais uma vez, destruir equipamentos e forçar uma estação de rádio crítica ao governo do Presidente Umaro Sissoco Embaló a sair do ar, acreditando que não haverá consequências”.
O assistente administrativo Binghate Martins estava na emissora durante a invasão e relatou ao CPJ, numa entrevista telefónica, que os atacantes o obrigaram a deitar-se no chão, dispararam tiros perto dos seus pés, e bateram-lhe nas suas costas com espingardas.
Os repórteres Maimuna Bari, Bala Sambú, e Ansumane Sow, os técnicos de rádio Lassana Djassi, Bakar Kuiaté, e Alssene Kandé, e o trabalhador administrativo Sana Mancal sofreram ferimentos ao escaparem pelo muro que rodeia a estação de rádio, de acordo com Santos.
Ele disse que Bari sofreu uma suspeita de contusão espinal e permaneceu hospitalizada; Djassi fraturou uma perna, Sow fraturou um braço, e os outros sofreram ferimentos leves.
Sow explicou ao CPJ num telefonema que partiu o braço direito quando escorregou e caiu ao tentar subir o muro, enquanto os agressores disparavam os seus primeiros tiros no exterior do edifício. Ele foi tratado numa clínica privada em Bissau, disse ele.
Ouvir tiros na estação de rádio foi “particularmente horrível e traumático” depois de ter reportado a tentativa de golpe de 1 de fevereiro, afirmou Sow.
Santos disse ao CPJ que os atacantes dispararam em nove computadores, duas mesas de mistura de som, e todas as câmaras de segurança da estação, e que o ataque durou cerca de cinco minutos.
“As intenções deles de destruir o equipamento eram claras”, disse Santos, acrescentando que a emissora estava fora do ar indefinidamente devido à falta de equipamento em funcionamento.
Santos disse que a polícia judiciária nacional selou a estação para investigar o ataque, e que não podia prever quando iriam liberar as instalações ou quando a estação voltaria a estar no ar.
A subdiretora da polícia judiciária, Cornélia Viera, disse ao CPJ, numa entrevista telefónica, que não sabia quando é que as instalações seriam liberadas, porque isso dependeria de quando a investigação estivesse concluída. E que ela não podia comentar mais, uma vez que o caso estava sob investigação.
Em comentários a jornalistas ontem, o comissário adjunto da polícia da ordem pública, Salvador Soares, descreveu o ataque como “um ato isolado”. Santos discordou desse enquadramento, perguntando, “como é que isto é um ato isolado se o Ministério do Interior tem tido dois agentes à porta desde o último ataque”?
Indira Baldé, chefe do sindicato de jornalistas locais SINJOTECS, disse ao CPJ através de um aplicativo de mensagens que o ataque “vem mostrar que os jornalistas não estão seguros enquanto fazem o nosso trabalho na Guiné-Bissau”.
No ano passado, Santos enfrentou também uma investigação criminal por difamação pelo seu trabalho, juntamente com o apresentador da Rádio Capital FM Sumba Nancil. O caso foi mais tarde arquivado por falta de provas, informou Santos.