Rio de Janeiro, 11 de fevereiro de 2022 – As autoridades brasileiras devem investigar rápida e minuciosamente o assassinato de Givanildo Oliveira e determinar se o crime foi uma retaliação ao seu trabalho como jornalista comunitário, disse o Comitê para Proteção de Jornalistas (CPJ) na sexta-feira.
Na noite de segunda-feira, 7 de fevereiro, Oliveira, fundador e jornalista do site de notícias Pirambu News, foi baleado e morto por um homem não identificado no bairro do Pirambu, em Fortaleza, capital do estado nordestino do Ceará, de acordo com diversas reportagens divulgadas e uma declaração do Sindicato dos Jornalistas do Ceará.
Oliveira havia sido ameaçado e avisado para não publicar informações sobre criminosos locais, segundo um comunicado da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), e sua morte ocorreu após a publicação de uma notícia sobre a detenção de um homem local suspeito de duplo homicídio, de acordo com o site privado de notícias Diário do Nordeste.
“As autoridades do estado do Ceará devem assegurar uma investigação imediata e completa sobre o assassinato do jornalista Givanildo Oliveira e identificar o motivo por trás do assassinato para determinar se ele está de fato relacionado ao seu trabalho”, disse em Nova York a coordenadora do programa para a América Latina e Caribe do CPJ, Natalie Southwick. “Os veículos de notícias locais e o jornalismo comunitário desempenham um papel crucial para informar a população e dar visibilidade às questões que essas comunidades enfrentam diariamente”. É profundamente perturbador que os jornalistas locais possam estar correndo um risco tão alto simplesmente por difundir notícias, e as autoridades devem garantir que eles possam informar com segurança”.
As gravações da câmera de segurança, publicadas pelo jornal privado O Povo, mostram Oliveira andando na rua quando um homem corre em sua direção, joga-o no chão, alveja-o aproximadamente quatro vezes na cabeça e na parte superior do corpo, e depois foge do local.
O Pirambu News cobre o bairro e arredores, incluindo reportagens sobre crime e policiamento, em seu website e canais em mídia social.
Um dia após o assassinato de Oliveira, o Portal de Fortaleza, que cobre as notícias locais no bairro da Vila Manoel Sátiro em Fortaleza, anunciou no Instagram que não cobriria mais as informações sobre crime e policiamento.
O jornalista Paulo Sérgio Damasceno, fundador do Portal de Fortaleza, disse ao CPJ, em entrevista telefônica, que ele e a equipe do canal estavam bastante preocupados com o incidente e, embora não tivessem recebido nenhuma ameaça, “a gente decidiu não cobrir mais a pauta policial pra não ser alvo”.
” Há suspeita de que o assassinato pode ter sido em retaliação ao [seu] trabalho”, disse ao CPJ por telefone Rafael Mesquita, presidente do Sindicato dos Jornalistas do Ceará, acrescentando que “as autoridades deveriam abrir os olhos para as especificidades da violência contra os jornalistas”.
As investigações estão em andamento, de acordo com uma declaração enviada por e-mail ao CPJ pela Secretaria de Segurança Pública e Defesa Social do estado do Ceará; entretanto, o órgão não respondeu às outras perguntas do CPJ sobre possíveis motivações, potenciais suspeitos, e se Oliveira havia relatado ter sido ameaçado.
O CPJ não conseguiu encontrar informações para contactar a família de Oliveira.