A 1° de julho de 2021, a polícia angolana prendeu Jeremias Kaboco, editor do website privado de notícias Wizi-Kongo, na cidade de Uige, localizada no norte do país, enquanto cobria um protesto de professores que exigiam salários não pagos, de acordo com as informações dos media e o jornalista, que conversou com o CPJ através de uma chamada de aplicação de mensagens.
Kaboco disse ao CPJ que os agentes o obrigaram a entrar numa carrinha da polícia, apesar de se identificar como jornalista; acrescentou que não se estava a manifestar. A sua identificação de imprensa foi exibida no seu peito, explicou ele, e trazia uma câmara profissional. Kaboco reporta para Wizi-Kongo, que cobre notícias gerais da região, segundo o jornalista e a revisão do site por parte do CPJ.
Onze professores também foram detidos, contou Kaboco ao CPJ, acrescentando que a polícia reagiu como se os manifestantes fossem criminosos perigosos. “Passaram uma vez para avaliar a situação e voltaram a disparar balas de borracha e gás lacrimogéneo contra todos nós”, afirmou ele.
Kaboco e os professores foram forçados a deitar-se no chão da carrinha da polícia aberta e enrolarem-se desconfortavelmente debaixo de um banco onde os agentes estavam sentados, disse ele. Foi difícil respirar nestas circunstâncias, especialmente porque ele estava a usar uma máscara para proteger da COVID-19, referiu o jornalista.
Depois dos agentes terem conduzido durante cerca de 40 minutos à procura de mais manifestantes, Kaboco e os professores foram levados para o posto policial local para serem processados, disse ele.
Durante a viagem, os agentes gritaram com Kaboco ameaçando espancá-lo e atirá-lo numa cela se ele resistisse de alguma forma, acrescentando: “Foi um dia de terror a que nunca tinha assistido”.
A polícia confiscou brevemente o telefone e a câmara fotográfica de Kaboco, mas não apagou qualquer conteúdo, disse o jornalista. Ele esteve no posto policial durante cerca de duas horas até que um colega jornalista, Moniz Francisco, correspondente local da Voz da América, media financiado pelo Congresso dos Estados Unidos, chegou com um advogado para o ajudar a ser libertado, acrescentou Kaboco. Ele foi libertado sem assinar quaisquer documentos de libertação e sem qualquer explicação, informou ele.
Francisco disse ao CPJ através de uma app de mensagens que o abuso da polícia contra jornalistas independentes na província do Uíge não é novidade, e que também tinha sido brevemente detido e ameaçado pela polícia a 17 de abril, durante a cobertura de protestos de estudantes contra o aumento das propinas.
Questionado pelo CPJ numa entrevista telefónica para confirmar se Kaboco havia estado detido no posto durante duas horas, Freitas Zama, porta-voz da polícia do Uíge, disse que não tinha sido oficialmente detido porque não foi colocado numa cela. A polícia no local havia recebido ordens para não fazer detenções, acrescentou o porta-voz.
Zama também afirmou que Kaboco não era considerado um “jornalista licenciado”, uma vez que não estava afiliado a nenhuma organização de comunicação social conhecida.
Kaboco disse que a polícia não incomodou os jornalistas dos meios de comunicação estatais que estavam a cobrir a manifestação. Ele acredita ter sido alvo porque trabalhava para um órgão de comunicação social privado que expõe a corrupção e produz jornalismo independente “que os que estão no poder não podem controlar”, disse ele.