Rio de Janeiro, 19 de julho de 2021 – As autoridades brasileiras devem investigar rápida e minuciosamente o ataque a tiros contra o jornalista Jackson Silva, certificar-se de sua segurança e garantir que os repórteres possam trabalhar sem medo, disse hoje o Comitê para Proteção de Jornalistas (CPJ).
Por volta das 21 horas do dia 9 de julho, na cidade de Moju, no estado do Pará, dois homens não identificados, escondidos fora da casa de Silva, atiraram nele várias vezes e depois fugiram do local em uma motocicleta, segundo reportagens e Osvando Siqueira, cofundador do site de notícias Moju News com Silva, e que falou com o CPJ por telefone.
A esposa de Silva e dois filhos também estavam no local dos disparos, mas não foram feridos, disse Siqueira ao CPJ.
Silva sobreviveu ao atentado e foi levado a um hospital na capital do Pará, Belém, onde foi submetido a várias cirurgias, segundo informações da imprensa e Siqueira, que contou que Silva já saiu do hospital em condições estáveis.
“As autoridades brasileiras devem assegurar uma investigação rápida e completa sobre a tentativa de assassinato do jornalista Jackson Silva, e determinar se o ataque estava relacionado ao seu trabalho”, disse em Nova York a coordenadora de programas do CPJ para a América Central e do Sul, Natalie Southwick. “Até que os responsáveis por este ato sejam identificados e levados à justiça, este será apenas mais um exemplo de impunidade nos crimes contra jornalistas, alimentando um ciclo de violência contra a imprensa brasileira”.
Silva apresenta o programa Giro Semanal, que resume o noticiário recente, transmitido nas páginas do Moju News no Facebook e no YouTube. No episódio veiculado no dia em que foi baleado, Silva cobriu prisões e operações policiais antidrogas, assim como o assassinato de um homem suspeito de matar um policial, entre outros temas. Silva também publica artigos no site do Moju News, cobrindo principalmente questões de crime e policiamento, mas também notícias gerais, incluindo a pandemia de COVID-19.
Em uma mensagem de áudio que Silva enviou para a emissora TV Record, transmitida em 12 de julho, ele disse que foi baleado seis vezes no ataque.
“Já fiz umas cirurgias. Vou fazer outras. Infelizmente, uma triste realidade. Não posso estar falando muito. Mas espero que a justiça seja feita”, disse ele.
Siqueira declarou ao CPJ que há uma: “Grande chance desse atentado ser por causa do trabalho de Jackson como jornalista. Trabalhamos com jornalismo policial, fazemos muita cobertura de crimes, tráfico de drogas, de apreensão de armas”.
Ele disse que não sabia se o ataque era retaliação por causa de alguma reportagem específica do veículo de comunicação, acrescentando: “Nós da equipe [do Moju News] estamos apreensivos porque não sabemos quem foi. A polícia diz que tem suspeitos, mas eles não apareceram”.
Em uma entrevista durante aquela transmissão da TV Record, a esposa de Silva, cujo nome não foi divulgado por razões de segurança, disse que supõe que o ataque “tenha sido pela profissão dele. Não imagino outro motivo”.
Anteriormente, em 11 de abril, Silva publicou um post no Facebook afirmando que tinha recebido uma mensagem ameaçadora dizendo: “Tu vai pegar um pau. Até quarta tu vai pegar”.
Em um comunicado enviado por e-mail ao CPJ, a Polícia Civil do Pará informou que as investigações estavam em andamento e que “uma força-tarefa foi montada pela PC-PA, junto com outros órgãos que compõem o sistema de Segurança Pública, para dar celeridade à elucidação do caso”.
O CPJ enviou um e-mail à Secretaria de Segurança Pública do Pará e ao gabinete do governador para comentários, mas não recebeu nenhuma resposta.