Rio de Janeiro, 23 de março de 2021 – Autoridades brasileiras devem investigar de forma rápida e minuciosa o incêndio criminoso contra o jornal Folha da Região e a casa do editor José Antônio Arantes, e garantir a segurança de Arantes, de sua família e da equipe do veículo de notícias, disse hoje o Comitê para a Proteção dos Jornalistas (CPJ).
Às 4:19 do dia 17 de março, na cidade de Olímpia, interior do estado de São Paulo, um agressor não identificado ateou fogo ao prédio que abriga a sede da Folha da Região e a residência de Arantes, segundo reportagens e o jornalista, que falou ao CPJ em entrevista por telefone.
O vídeo da câmera de segurança de um vizinho mostra um homem chegando em uma motocicleta, derramando um líquido nas entradas separadas do jornal e da casa de Arantes e incendiando-as. O jornalista e sua família conseguiram escapar das chamas sem ferimentos graves, disse ele.
Arantes é o fundador e editor do Folha da Região, jornal semanal impresso e site de notícias gerais no estado de São Paulo, e apresenta o programa diário de rádio “Cidade em Destaque” na emissora comunitária Rádio Cidade 98.7 FM e no canal da Folha da Região no YouTube e na página do Facebook, contou ele ao CPJ.
Nos dias anteriores ao ataque, Arantes havia recebido mensagens e comentários ofensivos nas plataformas de mídia social do jornal e da Rádio Cidade em resposta à sua cobertura da pandemia de COVID-19 e seu apoio ao distanciamento social e outras medidas para conter a propagação do vírus em Olímpia. Usuários do espaço fizeram campanha para que anunciantes cortassem vínculos com o programa devido a esta cobertura, ele revelou.
“Foi uma sorte que ninguém tenha ficado gravemente ferido no incêndio criminoso na casa de José Antônio Arantes e na sede do jornal, mas esta sorte não torna menos alarmante esta violenta tentativa de censura”, disse em Nova York a coordenadora do programa do CPJ para a América Central e do Sul, Natalie Southwick. “À medida que a COVID-19 se espalha por todo o Brasil, é mais vital do que nunca que jornalistas como Arantes possam relatar de forma livre e segura sobre questões que afetam a saúde pública e garantir o acesso do público à informação.”
Arantes relatou ao CPJ que ele e sua esposa acordaram por volta das 4:20, quando ouviram seus cachorros latindo e sentiram cheiro de fumaça, e encontraram a porta da frente em chamas. Ele e a esposa apagaram o fogo e saíram de casa com a neta de nove anos, onde encontraram a porta da frente da sede do jornal também em chamas e as apagaram. Arantes disse que ligou imediatamente para o corpo de bombeiros local, mas nenhum bombeiro chegou até cerca das 8 horas.
Arantes disse ao CPJ que sua esposa sofreu pequenas queimaduras no braço e que ele e sua neta não se feriram, acrescentando: “A gente podia ter morrido asfixiado. A sorte é que não pegou fogo tão rápido e que a gente acordou.”
Ele também observou que, no vídeo de segurança, o agressor não é visto tentando entrar no escritório ou em sua casa.
“Ele veio com a única intenção de pôr fogo ali na casa e no jornal”, disse Arantes. Ele afirmou que teme por sua segurança e de sua família, e que nunca viu um ataque como esse contra um jornalista em Olímpia.
A Polícia Civil de Olímpia abriu investigação sobre o caso, solicitou perícia do local e busca outras imagens e testemunhas, segundo nota enviada por e-mail ao CPJ por Gabriela Amaral, funcionária da assessoria de imprensa da Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo.
Uma segunda declaração, também enviada ao CPJ por e-mail pela assessoria de imprensa, observou que a equipe de investigadores não “descarta nenhuma hipótese” sobre o motivo do ataque.
Dois dias antes, em seu programa de rádio das 11 horas, que Arantes apresenta com sua filha, ele noticiou um protesto local de mais de 100 pessoas, muitas sem máscaras, que exigiam que o comércio local permanecesse aberto apesar do aumento nacional de mortes por COVID-19.
Durante e após a transmissão, “veio de novo campanha para cortar anúncio, agressão e xingamentos [postadas nas plataformas de mídia social do veículo], desmerecendo o trabalho do jornal”, disse ele ao CPJ.
Algumas das mensagens postadas nas contas online da Folha da Região e da Rádio Cidade, revisadas pelo CPJ, diziam que o “pessoal precisa parar de fazer propaganda nessa rádio”, e chamavam o jornalista e os veículos de “hipócritas” e “comunistas, são servos de satanás a serviço do inferno.”
Arantes disse ao CPJ que, na véspera do incêndio criminoso, recebeu uma ligação do provedor de serviços do site da Folha da Região informando sobre um possível ataque de negação de serviço distribuído (DDoS) orquestrado contra o veículo, em que invasores inundam a página da internet com tráfego da web e retardam o acesso dos usuários ao site.
“Desde março do ano passado eu venho defendendo a ciência, a vacina e medidas de proteção. Tenho um programa de rádio em que procuro esclarecer as dúvidas sobre a pandemia. Eu passei o ano estudando sobre isso para poder informar os ouvintes”, informou Arantes ao CPJ.