Rio de Janeiro, 30 de julho de 2020 – As autoridades brasileiras devem investigar rápida e minuciosamente o atentado ao jornalista Alex Braga, levar os responsáveis à justiça e garantir que ele possa trabalhar com segurança, afirmou hoje o Comitê para a Proteção dos Jornalistas (CPJ).
Pouco depois das 21 horas de 23 de julho, homens não identificados provocaram uma colisão com o veículo de Braga enquanto ele dirigia na cidade de Manaus, capital do estado do Amazonas, na região norte do país, e depois esmurraram e ameaçaram o jornalista, de acordo com as informações da imprensa e entrevistas por telefone do CPJ com Braga e seu colega Laurismar Sampaio, operador de câmera, que também estava no veículo e testemunhou o ataque.
Braga apresenta o noticiário noturno “Amazonas Diário” na TV Record News, membro do Grupo Diário de Comunicação, disse ao CPJ. Ele contou que frequentemente cobre denúncias de corrupção envolvendo autoridades locais e empresas privadas.
“As autoridades brasileiras devem investigar minuciosamente o ataque ao jornalista Alex Braga e as ameaças contra ele, e garantir que todos os responsáveis sejam responsabilizados”, disse em Nova York a Coordenadora do Programa para a América Central e do Sul do CPJ, Natalie Southwick. “Braga teve a sorte de escapar ileso desta vez, e as autoridades não devem permitir que seus agressores tentem novamente. Jornalistas como Braga desempenham um papel vital, garantindo transparência nas despesas públicas e devem poder informar o público sem arriscar suas vidas”.
Braga disse ao CPJ que começou a receber ameaças há cerca de dois meses, apenas alguns dias depois de começar a apresentar o noticiário da noite. E acrescentou que um político local telefonou recentemente para a estação e disse que “me daria um soco” e que um empresário local falou a um repórter da emissora que queria “me dar um tiro na cabeça”.
Braga explicou ao CPJ que não queria identificar o político ou o empresário por medo de retaliação. E relatou que recentemente cobriu a suposta corrupção na distribuição e uso de fundos destinados a conter a pandemia de COVID-19. Sampaio disse ao CPJ que, devido às ameaças que Braga havia recebido, eles estavam sempre alertas ao sair do estúdio de TV.
Na noite de 23 de julho, Braga estava dirigindo com Sampaio após deixar o trabalho quando Sampaio falou que achava que estavam sendo seguidos, contaram os jornalistas ao CPJ. Um carro azul bateu na traseira do carro e outro parou logo atrás, disseram ambos.
Após o acidente, Sampaio relatou ao CPJ que confrontou o carro que havia colidido com eles e dois homens saíram do veículo depois de ver Braga.
“Eu percebi que um deles tinha uma arma na cintura e me afastei, aí ele veio pra cima de mim me deu um soco”, disse Braga ao CPJ, acrescentando que o homem falou: “Você está incomodando muita gente no seu programa. Vou te matar”.
Sampaio contou que um dos homens falou para ele para não se envolver porque “o problema não é com você” e depois colocou a mão na cintura para mostrar que estava armado.
Braga explicou que fugiu do local a pé e não ficou gravemente ferido no ataque. Sampaio relatou ao CPJ que o outro carro não identificado que havia parado observou toda a cena.
Braga disse ao CPJ que denunciou o ataque à polícia naquela noite e deu seu testemunho à polícia alguns dias depois.
“É visível que foi um atentado. E a polícia não identificou ninguém ainda. E isso me preocupa. Eu tô com medo porque, se tem um novo episódio, pode ser de morte”, disse Braga.
A Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) compartilhou um vídeo do incidente no YouTube.
Braga disse que o vídeo do ataque também circulou dentro de grupos do WhatsApp, incluindo imagens com o texto: “essa foi a lição número um” e “aguarde a lição número dois”.
As assessorias de imprensa do Secretário de Segurança Pública do Amazonas e da Polícia Civil do estado do Amazonas confirmaram por e-mail que a polícia abriu uma investigação sobre o ataque, mas se recusaram a compartilhar informações adicionais.
O assessor de imprensa do Ministério Público do Amazonas, Arnoldo Araújo dos Santos, disse ao CPJ por e-mail que o gabinete não estava investigando o caso e que a polícia é responsável pela investigação.
A assessoria de imprensa do Ministério da Justiça e Segurança Pública, em um e-mail enviado pelo representante Werveson Ferreira, disse que o ministério não recebeu nenhum pedido para abrir uma investigação federal sobre o incidente.