Bogotá, Colômbia, 15 de agosto de 2018 – O Comitê para a Proteção dos Jornalistas (CPJ) saudou hoje a condenação e a determinação da sentença do mentor do assassinato do jornalista, comediante e ativista pacifista colombiano Jaime Garzón, ocorrido em 1999, e expressou desapontamento pelo fato de o tribunal não considerar o trabalho de Garzón como jornalista em sua decisão.
Um tribunal criminal do distrito de Bogotá, em 13 de agosto, sentenciou José Miguel Narváez, ex-funcionário da agência de inteligência colombiana, a 30 anos de prisão por instigar o assassinato de Garzón e ordenou que ele pagasse 390 milhões de pesos colombianos (US $ 130.000) de indenização à família do jornalista, de acordo com documentos judiciais citados em reportagens. Narvaéz está sob custódia desde 2009 por acusações não relacionadas.
“Dezenove anos depois do assassinato de Jaime Garzón, o autor intelectual de sua morte está finalmente enfrentando a justiça”, disse em Nova York a coordenadora do Programa da América Central e do Sul do CPJ, Natalie Southwick. “Esta decisão é um avanço importante no combate à impunidade que caracterizou um dos mais infames assassinatos de jornalistas da Colômbia, mas é decepcionante que o tribunal não tenha considerado as reportagens de Garzón como um fator em sua morte.”
Segundo a imprensa, Narvaéz convenceu os esquadrões da morte paramilitares de direita a matar Garzón, que foi assassinado a tiros em seu veículo em uma rua de Bogotá em 13 de agosto de 1999, por supostamente colaborar com guerrilheiros esquerdistas.
Ao condenar Narvaéz, o tribunal não levou em conta o trabalho de Garzón como jornalista como um fator motivador do plano de Narvaéz de matar o repórter.
Em um comunicado, a Fundação para a Liberdade de Imprensa (FLIP), com sede em Bogotá, criticou essa omissão e escreveu que, durante o julgamento, testemunhas disseram que as frequentes críticas de Garzón aos paramilitares nos telejornais foram uma das razões de ele ser morto.
Garzón, que tinha 38 anos quando morreu, era uma figura querida na Colômbia, cuja história de vida inspirou uma recente minissérie televisiva.
Ele era mais conhecido por seu personagem de TV Heriberto de la Calle, um humilde sapateiro que comentava sobre os males da sociedade e fazia entrevistas sarcásticas com políticos colombianos em um segmento regular de um dos principais programas de notícias do país. Ele também criou o Zoociedad, um programa de TV focado no humor político.
Com a guerra de guerrilha na Colômbia no final da década de 1990, Garzón, que já havia sido prefeito de um subúrbio de Bogotá, tornou-se um ativista da paz e mediador entre guerrilheiros e parentes de reféns mantidos pela guerrilha para negociar suas libertações. Essas atividades podem ter levado os paramilitares a rotulá-lo como um colaborador rebelde e marcá-lo para morrer, de acordo com as informações da imprensa.
Em sua decisão de 13 de agosto, o tribunal disse que Narváez era uma presença constante nos campos paramilitares e forneceu informações sobre os movimentos diários de Garzón, o que lhes permitiu rastreá-lo e matá-lo.
“Ele constantemente assediou o líder dos paramilitares para realizar o crime”, disse o tribunal, segundo trechos da decisão publicados na mídia colombiana.
Na época do assassinato, Narváez, que de acordo com as reportagens era um feroz anticomunista, foi professor na escola de guerra da Colômbia, a Escola Superior de Guerra. Mais tarde, foi nomeado diretor assistente do Departamento de Segurança Administrativa (DAS), agência de inteligência doméstica da Colômbia. O DAS foi dissolvido em 2011 em meio a um enorme escândalo de escutas telefônicas no qual a agência revelou ter espionado jornalistas, ativistas de direitos humanos e políticos da oposição.
Em 2016, Narváez foi sentenciado a oito anos de prisão por envolvimento no escândalo, muitas vezes chamado de DASgate.