Cidade do México, 22 de maio de 2017 – As autoridades mexicanas não devem medir esforços para obter a libertação, são e salvo, do jornalista Salvador Adame Pardo, declarou hoje o Comitê para a Proteção dos Jornalistas (CPJ). Indivíduos armados sequestraram Adame, diretor do canal de televisão 6TV, em 18 de maio, na localidade central mexicana de Nova Italia.
“A violência e as tentativas de intimidação à imprensa no México estão impedindo que os jornalistas desenvolvam seu trabalho com segurança”, declarou em Nova York o coordenador sênior do programa das Américas do CPJ, Carlos Lauría. “Instamos as autoridades a agir rapidamente para garantir que Salvador Adame Pardo recupere sua liberdade são e salvo”.
Segundo testemunhas mencionadas em versões jornalísticas, indivíduos armados sequestraram Adame pouco antes das 20h00 na Avenida Lázaro Cárdenas de Nueva Italia, perto de uma instalação de purificação de água. Os agressores o obrigaram a entrar em um veículo SVU preto e, depois, fugiram do local com direção a Nuevo Coróndiro, noroeste de Nova Itália, situado a cerca de 402 quilômetros a oeste da Cidade do México, segundo informações das mesmas testemunhas.
Em uma breve declaração divulgada na segunda-feira, a Procuradoria Geral de Justiça do estado (PGJE) de Michoacán afirmou que as autoridades haviam iniciado uma investigação horas depois do sequestro e que, como Adame é jornalista, a Procuradoria Geral da República (PGR) foi notificada e a polícia federal e o exército estavam realizando uma operação de busca na região ao redor de Nueva Italia.
Um porta-voz da PGJE declarou ao CPJ que não podia comentar se as autoridades consideravam o trabalho jornalístico de Adame o motivo principal do seu sequestro, pois se tratava de uma investigação em andamento e havia a preocupação com a segurança da vítima.
Adame exerce o jornalismo há duas décadas e mora no município de Múgica, na região sul de Michoacán, onde está localizada Nueva Italia. Na qualidade de diretor da 6TV, Adame se dedicava à cobertura noticiosa geral e à política local. É um crítico frequente dos funcionários municipais, segundo um amigo e colega que deu declarações ao CPJ sob o prévio pedido de anonimato, devido a preocupação com sua segurança.
Em abril de 2016, o CPJ informou que a polícia havia detido Adame e Frida Urtz, sua esposa e coproprietária da 6TV, quando ambos informavam sobre uma manifestação em que pessoas sentaram em frente à sede do governo local de Nueva Italia como protesto pela suspensão de um projeto social financiado pelo governo.
Naquela época, Adame declarou ao CPJ que agentes da polícia haviam agredido aos dois na presença de funcionários municipais. Também disse ao CPJ que temia por sua vida e pela de sua esposa, e que estava pensando em abandonar o estado, mas, desde então, não denunciou nenhuma ameaça direta ao CPJ.
O governo municipal de Múgica não respondeu aos reiterados telefonemas efetuados na segunda-feira pelo CPJ.
Segundo informações da imprensa e do colega de Adame, normalmente o jornalista evitava informar sobre a violência e as atividades do crime organizado na região. A área de Tierra Calíente, uma extensa zona de terras agrícolas e cadeias montanhosas que abrangem aproximadamente a metade sul de Michoacán, é um foco do crime organizado há anos. Recentemente, Nueva Italia, em particular, tem sido cenário de confrontos entre grupos de narcotraficantes locais e cidadãos armados que se autodenominam “Grupos de autodefesa”.
O México é o país com o maior número de vítimas fatais entre jornalistas até agora em 2017. Somente este ano, pelo menos quatro jornalistas foram mortos em represália direta por seu trabalho jornalístico, segundo os dados do CPJ. O CPJ está investigando os motivos do assassinato do diretor editorial do El Político, Ricardo Monlui Cabrera, ocorrido em 19 de março, para determinar se o homicídio foi decorrência de seu exercício profissional.
No início do mês, o CPJ lançou um Informe Especial sobre a impunidade que prevalece em assassinatos e sequestros de jornalistas no México.