Cidade do México, 20 de março de 2017 – As autoridades mexicanas devem investigar exaustivamente e de maneira crível o homicídio do jornalista Ricardo Monlui Cabrera, declarou hoje o Comitê para a Proteção dos Jornalistas (CPJ). Monlui foi assassinado a tiros na manhã de ontem no município de Yanga, no estado oriental de Veracruz, quando saía de um restaurante onde havia feito uma refeição com sua esposa e filho. Tinha 57 anos.
Monlui, residente na cidade de Córdoba, era diretor editorial do jornal El Político de Córdoba e autor da coluna “Crisol”, que aparecia regularmente nos jornais El Sol de Córdoba e Diario de Xalapa. Também era presidente da Associação de Jornalistas locais de Córdoba e porta-voz da União Nacional de Produtores de Cana de Açúcar. Exerceu o jornalismo por mais de 30 anos.
Segundo o noticiário, Monlui havia saído de um restaurante em Yanga com sua esposa e filho por volta das 10h00 de ontem, quando desconhecidos que estavam em uma moto dispararam três vezes, provocando sua morte imediata. Jorge Morales, diretor-executivo da Comissão Estatal para a Atenção e Proteção dos Jornalistas (CEAPP, por sua sigla em espanhol) de Veracruz, declarou ao CPJ que a vítima morreu instantaneamente por um ferimento de bala na cabeça. Morales acrescentou que a esposa e o filho de Monlui saíram ilesos, e que haviam regressado para sua casa em Córdoba com proteção policial.
Veracruz é uma região conhecida pela violência contra os jornalistas. Durante a gestão do ex-governador Javier Duarte, que atualmente é foragido da justiça e foi processado por supostas conexões com o crime organizado, pelo menos seis jornalistas de Veracruz foram assassinados entre 2010 e 2016 em represália direta pelo exercício da profissão, enquanto 10 outros jornalistas tenham morrido sem que fosse possível esclarecer o motivo dos homicídios, segundo dados do CPJ. Outros três continuam desaparecidos. Miguel Ángel Yunes Linares assumiu o cargo de governador estadual.
“Os investigadores devem levar em conta o trabalho jornalístico de Ricardo Monlui Cabrera como um dos possíveis motivos do seu assassinato e levar todos os responsáveis por este horrendo crime à justiça”, declarou em Nova York o coordenador sênior do programa das Américas do CPJ, Carlos Lauría. “Veracruz se converteu no local mais letal do hemisfério ocidental para o exercício do jornalismo durante a gestão do ex-governador Javier Duarte. O governo de Miguel Ángel Yunes Linares deve supervisionar uma investigação crível em cooperação com as autoridades federais para provar que está comprometido com um legado diferente”.
A Procuradoria-geral de Justiça do estado de Veracruz divulgou na tarde de ontem uma breve declaração no facebook, na qual confirmou que a polícia investigava o homicídio e que não se descartara nenhum motivo, inclusive o trabalho jornalístico de Monlui.
O CPJ não conseguiu se comunicar com Jorge Winckler, Procurador-geral do estado de Veracruz, para conseguir mais informações. Jaime Cisneros, Procurador Especial Federal encarregado da atenção aos crimes contra jornalistas, declarou por telefone ao CPJ que não estava em condições de fornecer novos detalhes, com o argumento de que se tratava de uma investigação em andamento. No entanto, foi confirmado que a esposa e o filho de Monlui receberam proteção policial em sua residência.
Em suas mais recentes colunas e em outros artigos, Monlui havia escrito majoritariamente sobre política regional e a indústria açucareira, um dos maiores motores econômicos da região que rodeia Córdoba. A violência relacionada com a indústria açucareira é comum em Córdoba. Segundo Vicente Osorio, jornalista do El Sol de Córdoba e amigo da vítima, os vastos interesses econômicos em torno da indústria às vezes levam a violentos confrontos entre os produtores açucareiros e os sindicatos. Em 24 de fevereiro, o líder de uma organização de produtores açucareiros locais foi morto em confrontos em Córdoba, segundo informações da imprensa.
O trabalho de Monlui como porta-voz da União Nacional de Produtores de Açúcar e seu jornalismo o aproximavam muito da indústria, declararam ao CPJ jornalistas da região.
Osorio declarou ao CPJ que não estava ciente de nenhuma ameaça contra Monlui antes da morte do jornalista. Também afirmou que não sabia de nenhum conflito no setor que pudesse ter gerado animosidade contra o jornalista. Morales, da CEAPP, declarou ao CPJ que Monlui não havia se inscrito em nenhum programa de proteção de jornalistas federal ou estadual.
A violência contra jornalistas em Veracruz ocorre em um contexto de confrontos entre poderosos grupos de crime organizado do estado pelo controle de lucrativas rotas de narcotráfico e tráfico de pessoas.
Mais de 1.300 pessoas morreram vítimas de homicídio no estado em 2016, segundo informações da imprensa, a grande maioria por execução. A região que rodeia Córdoba é uma das mais violentas do estado, segundo jornalistas com os quais o CPJ conversou ontem sobre o assassinato de Monlui. Morales declarou ao CPJ que a situação da segurança na região é “extremamente complicada”.