São Paulo, 26 de julho de 2016 – As autoridades brasileiras devem conduzir de forma minuciosa e imediata a investigação da morte do jornalista brasileiro João Miranda do Carmo, de forma a esclarecer os motivos do seu assassinato e de levar à justiça todos os responsáveis pelo crime, declarou hoje o Comitê para a Proteção dos Jornalistas (CPJ).
Na noite de 24 de julho, ao menos dois homens em um carro estacionado próximo à casa de do Carmo, na cidade de Santo Antônio do Descoberto, afastada cerca de 50 quilômetros da capital, Brasília, chamaram o jornalista pelo nome. Quando do Carmo apareceu, foi alvejado sete vezes pelos suspeitos, que fugiram em seguida em um Fiat Palio, segundo relatos de jornais locais. Ele morreu instantaneamente. Do Carmo era editor do pugnaz site “SAD Sem Censura”.
“Pedimos as autoridades que conduzam a investigação do assassinato de do Carmo de forma ágil e confiável, e que levem os responsáveis à justiça”, disse o Diretor Executivo Adjunto do CPJ, Rob Mahoney. “O número de jornalistas mortos no Brasil em decorrência do seu trabalho foi maior que o de qualquer outro pais do continente. O assassinato de do Carmo mostra que o risco corrido pelos jornalistas não diminuiu”.
Do Carmo contou à polícia que fora ameaçado ao menos duas vezes. Ele falou com a polícia em maio de 2014, quando seu carro foi incendiado, e novamente fevereiro deste ano, quando relatou ter recebido ameaças de morte, segundo Gilson Ferreira, porta-voz da polícia com acesso aos arquivos do caso, declarou hoje via telefone, de Goiânia, capital do estado. O porta-voz disse que o jornalista não teria especificado por quem fora ameaçado.
O presidente do Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de Goiás disse ao CPJ que do Carmo teria contrariado as autoridades locais com suas reportagens polêmicas.
“Ele era muito controverso em sua cidade e cobrava respostas dos políticos, da polícia e das autoridades locais”, Disse Cláudio Curado ao CPJ por telefone. “Nós acreditamos que o crime teve motivações políticas. Ele criticava os políticos locais”.
O porta-voz da polícia disse também que do Carmo fora acusado três vezes de difamação e outros delitos.
Em seu site, do Carmo havia criticado recentemente as ruas não pavimentadas da cidade, uma taxa de coleta de lixo e também apresentou as queixas de empregados municipais locais que não estavam recebendo seus salários regularmente.
Noticiários locais dizem que a polícia trabalha com a possibilidade de crime encomendado.
A Federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ) relatou que do Carmo era membro do Partido Comunista do Brasil (PCdoB), e Curado afirmou que o jornalista, de 54 anos, planejava participar das eleições municipais deste ano.
Embora progressos tenham sido feitos no combate à impunidade por crimes contra jornalistas, a mídia brasileira continua a enfrentar enormes ameaças, sendo jornalistas independentes em cidades pequenas particularmente vulneráveis, segundo pesquisa do CPJ. Apenas em 2015, seis jornalistas brasileiros foram mortos por conta de seus trabalhos e outros dois em circunstâncias suspeitas. A pesquisa do CPJ mostra que 38 jornalistas foram assassinados em decorrência direta de seus trabalhos desde 1992.