São Paulo, 6 março de 2015 – O Comitê para a Proteção dos Jornalistas (CPJ) condena o assassinato na quinta-feira do radialista paraguaio Gerardo Ceferino Servian Coronel, que foi morto a tiros em Ponta Porã, uma pequena cidade do lado brasileiro da fronteira Brasil-Paraguai.
“A fronteira paraguaio-brasileira tornou-se uma das regiões mais perigosas para os jornalistas no hemisfério ocidental”, disse em Nova York a pesquisadora associada do programa das Americas do CPJ, Sara Rafsky. “As autoridades de ambos os países devem se unir para investigar a fundo o assassinato de Gerardo Ceferino Servian Coronel e levar os responsáveis à justiça para demonstrar que não permitirão que a imprensa seja aterrorizada.”
Patrick Linares, detetive brasileiro responsável pelo caso, disse ao CPJ: “Foi uma execução. Duas pessoas andaram até ele e dispararam seis ou sete tiros nas costas e na cabeça”. Os homens armados, em seguida, fugiram do local, segundo a imprensa.
Servian tinha trabalhado anteriormente em várias emissoras de, e nos redondezas de Pedro Juan Caballero, a principal cidade no lado paraguaio da fronteira. No início deste ano, ele começou a apresentar um programa matutino de notícias na Ciudad Nueva FM, uma pequena estação de rádio comunitária com sede em Zanja Pyta, uma pequena cidade paraguaia a cerca de 10 quilômetros de Pedro Juan Caballero, de acordo com dois jornalistas locais, que pediram para permanecer anônimos por medo de represálias.
O irmão do radialista, Francisco “Kiko” Servian, jornalista da Rádio Amambay no lado paraguaio da fronteira, disse à Associated Press que seu irmão não tinha relatado ter recebido ameaças de morte, mas que “nesta área do país é normal silenciar jornalistas com tiros”.
A polícia brasileira disse ao CPJ que não havia estabelecido motivos para o assassinato e que não tinha suspeitos. Linares disse que mais de uma dúzia de homens estavam investigando o caso. E acrescentou que estavam avaliando as imagens de um circuito fechado de televisão e que tinham contatado a polícia no lado paraguaio da fronteira para compartilhar informações. Linares acrescentou que a investigação foi dificultada por uma cultura de medo entre os cidadãos locais na área.
“Ninguém quer falar na fronteira”, Linares disse ao CPJ. “Todo mundo tem medo das repercussões. Isso é normal em todos os casos que temos, especialmente com os de homicídio.”
Um dos jornalistas que pediu para permanecer anônimo disse ao CPJ que Servian tinha recentemente apresentado reportagens críticas sobre o prefeito da cidade, Marcelino Rolón, que está concorre à reeleição no final deste ano. O CPJ ligou para o número listado no site do escritório do prefeito em Zanja Pyta várias vezes, mas uma gravação afirmava que o número estava bloqueado.
De acordo com a pesquisa do CPJ, a fronteira entre Brasil e Paraguai é particularmente perigosa para os jornalistas. Pedro Juan Caballero é um centro de contrabando e crime organizado, de acordo com informações da imprensa. Em maio de 2014, dois assaltantes em uma motocicleta mataram a tiros Fausto Gabriel Alcaraz Garay em Pedro Juan Caballero, segundo as informações da imprensa.
Em outubro, Pablo Medina Velázquez, jornalista paraguaio que escreveu sobre o comércio ilegal de drogas no país, foi morto a tiros com o seu assistente na cidade oriental de Curuguaty. Na quarta-feira, as autoridades brasileiras detiveram Vilmar “Neneco” Acosta Marques, prefeito de Ypejhú, que foi acusado de ordenar o crime e estava escondido há meses. Jornalistas paraguaios pediram que às autoridades que procurem obter sua extradição imediatamente, de acordo com informações da imprensa.