Bogotá, 19 de outubro de 2012 – O Comitê para a Proteção dos Jornalistas (CPJ) condena a perseguição oficial a dois executivos de um jornal boliviano que informou sobre corrupção governamental no departamento [estado] de Pando, no norte do país. Logo após o episódio, ambos buscaram refúgio por três dias no Brasil, de acordo com informações da imprensa.
Wilson García Mérida, fundador, editor e proprietário do jornal quinzenal Sol de Pando, e sua gerente-geral, Silvia Antelo, abandonaram a capital do estado, Cobija, em 13 de outubro e permaneceram na cidade fronteiriça brasileira de Brasilea, após serem perseguidos em duas ocasiões por investigadores que afirmaram representar a polícia e o Ministério Público, segundo informações da imprensa e de Franz Chávez, coordenador da Asociación Nacional de la Prensa, sediada em La Paz. Os jornalistas afirmaram que fugiram do país porque temiam ser presos, disse Chávez ao CPJ.
Os jornalistas estavam em Cobija para distribuir a última edição do Sol de Pando, que cobre governo, população indígena e temas sociais, no departamento de Pando. As autoridades começaram a segui-los e fotografa-los, e mais tarde chegaram ao hotel onde estavam hospedados na cidade com uma ordem de detenção, disse García a repórteres no domingo.
Pedro Melgar, secretário de assuntos jurídicos do governo de Pando, disse ao CPJ que não havia nenhuma tentativa das autoridades locais de assediar os jornalistas ou impedir que distribuíssem o periódico.
Antelo indicou ao CPJ que havia deixado o Brasil na terça-feira e viajado para a capital boliviana, La Paz, e que García havia regressado para sua casa em Cochabamba. A jornalista disse que ambos tinham a intenção de permanecer na Bolívia e continuar publicando o Sol de Pando, mas temiam ainda mais assédio governamental.
O Sol de Pando informou sobre corrupção governamental no passado, e tanto o jornal quanto o seu editor, García, foram alvo de perseguição por parte de autoridades bolivianas. O ex-congressista Richard Flores, irmão do governador de Pando, Luis Adolfo Flores, processou García por difamação devido a matérias no Sol de Pando que alegam que ele recebeu indevidamente contratos de trabalho irregulares do governo, contou Melgar ao CPJ. Flores negou as acusações. García disse que, em junho de 2011, o governador ordenou o confisco de aproximadamente duas mil cópias do jornal, que continha artigos sobre corrupção governamental. Um funcionário do governo negou a acusação.
“Os executivos do Sol de Pando não devem ser intimidados pela cobertura do periódico sobre temas sensíveis”, disse o coordenador sênior do programa das Américas do CPJ, Carlos Lauría. “As autoridades do departamento de Pando devem conter imediatamente o assédio contra o jornal e permitir que circule livremente”.
Funcionários do governo boliviano e meios de comunicação críticos se enfrentaram anteriormente. Em agosto, as autoridades impetraram uma ação penal contra três meios de comunicação e os acusaram de incitar o racismo e a discriminação por sua cobertura sobre um discurso do presidente Evo Morales.