Nova York, 20 de setembro de 2012 – As autoridades equatorianas devem investigar imediatamente a intimidação contra a jornalista Janet Hinostroza, que trabalha para o canal privado Teleamazonas, afirmou hoje o Comitê para a Proteção dos Jornalistas (CPJ). A ameaça obrigou Hinostroza a abandonar temporariamente seu programa “La Mañana 24 horas”.
Hinostroza recebeu, na semana passada, um telefonema de uma pessoa não identificada que ameaçou sua integridade física e segurança, segundo denúncia feita pela jornalista em seu programa de quarta-feira, indicam as informações da imprensa. A jornalista ressaltou que as ameaças a levaram a cancelar o último segmento de uma reportagem especial dividida em três partes, segundo o noticiado.
Nos dois primeiros segmentos, veiculados na semana passada, Hinostroza informou sobre um escândalo relacionado a um empréstimo não quitado de 800 mil dólares realizado pelo banco estatal Cofiec ao empresário argentino Gastón Duzac, segundo as informações da imprensa. Hinostroza afirmou em seu programa que Duzac possuía vínculos com Pedro Delgado, presidente do conselho de administração do Banco Central do Equador e primo do presidente Rafael Correa.
Em seu programa semanal de televisão, Correa reconheceu “irregularidades” na forma como o empréstimo foi aprovado, mas negou qualquer ilícito por parte de Delgado, segundo o noticiário. Hinostroza defendeu seu trabalho no caso Duzac. Reportagens veiculadas pela imprensa relataram que Duzac deixou o Equador e não fez declarações sobre o caso.
Hinostroza optou por não comparecer ao programa de sexta-feira “porque eu não sei com que tipo de pessoas estamos lidando”, declarou ela no “La Mañana 24 horas” de quarta-feira. Ela também recusou a oferta de proteção feita pelo governo: “É justo que um jornalista tenha que ficar cercado por guarda-costas para fazer seu trabalho honesto, profissional e responsável? Quando isso aconteceu? Eu não aceito”, acrescentou.
“É lamentável que Janet Hinostroza se veja forçada a suspender temporariamente seu trabalho como jornalista por causa de ameaças feitas contra ela”, declarou o coordenador sênior do programa das Américas do CPJ, Carlos Lauría. “As autoridades devem investigar minuciosamente a ameaça e garantir que Hinostroza possa retomar sua importante cobertura sobre assuntos governamentais sem temor por sua segurança”.
Hinostroza e a Teleamazonas, que é conhecida por suas críticas às políticas do presidente Correa, entraram em choque com o governo anteriormente. Após Hinostroza informar, em abril de 2011, sobre uma mulher que havia sido processada por desrespeitar o presidente, o governo determinou que a Teleamazonas transmitisse em seu programa uma réplica de 10 minutos, na qual o porta-voz do governo questionou a sua ética, segundo as informações da imprensa. Naquela semana, durante um discurso pela rádio estatal, Correa zombou do intelecto de Hinostroza e afirmou que ela deveria ser ignorada.
A Teleamazonas é um dos alvos preferidos da administração de Correa. Em 2009, o canal foi retirado do ar por três dias depois de noticiar os efeitos da exploração de gás natural sobre a indústria pesqueira local, segundo as informações da imprensa.
Pedro Delgado também teve conflitos anteriores com a imprensa crítica. Em dezembro, o diretor do jornal Hoy de Quito foi condenado em um processo penal por difamação por causa de artigos que alegavam que Delgado exercia influência no governo.
Um relatório especial do CPJ publicado em 2011 revelou que o governo de Rafael Correa havia levado o Equador a uma nova era de repressão generalizada ao interromper programas de notícias em meios de comunicação privados para impor o ponto de vista oficial, promover medidas legais restritivas, lançar campanhas para desmoralizar críticos e processar jornalistas por difamação.
- Para mais dados e análises sobre o Equador, visite a página do CPJ sobre o país.