Repórteres e editores da Etiópia, Rússia, Venezuela e Irã receberão o Prêmio Internacional da Liberdade de Imprensa. Aryeh Neier receberá o prêmio Burton Benjamin.
Nova York, 5 de outubro de 2010 – O Comitê para a Proteção dos Jornalistas (CPJ) homenageará corajosos jornalistas com o Prêmio Internacional da Liberdade de Imprensa 2010 em uma cerimônia que será realizada em novembro. Dawit Kebede da Etiópía, Nadira Isayeva da Rússia, Laureano Márquez da Venezuela e Mohammad Davari do Irã arriscaram sua liberdade e segurança para relatar sua perspectiva sobre a realidade em seus respectivos países.
“Os ganhadores do Prêmio Internacional da Liberdade de Imprensa 2010 enfrentaram violência, ameaças, encarceramento e até tortura por seu trabalho jornalístico”, afirmou Joel Simon, diretor-executivo do CPJ. “Cada um realizou uma contribuição vital para a cidadania de seu país. Divulgaram injustiças, denunciaram atos de corrupção e mantiveram um olhar cético sobre o alcance das medidas oficiais. Nós os honramos e apoiamos tanto por sua independência como pelo seu valor”.
Aryeh Neier, presidente do Open Society Institute, receberá o Prêmio Burton Benjamin em reconhecimento por sua ampla trajetória em defesa da liberdade de imprensa e dos direitos humanos.
Os prêmios serão entregues em uma cerimônia no Hotel Waldorf-Astoria na cidade de Nova York em 23 de novembro. Sir Howard Stringer, presidente da diretoria, CEO e presidente da Sony Corp., presidirá a cerimônia. Brian Williams, membro da diretoria do CPJ, apresentador e diretor editorial do “Nightly News” da rede NBC, conduzirá o evento.
Sobre os jornalistas laureados com o Prêmio Internacional da Liberdade de Imprensa 2010:
Dawit Kebede, Etiópia
Kebede, 30 anos, foi um dos primeiros jornalistas a ser preso por seu trabalho informativo independente durante o período de violência política na Etiópia nas eleições de 2005. E foi um dos últimos a ser libertado, após um indulto presidencial quase dois anos depois. Ao contrário de muitos de seus colegas que optaram pelo exílio, Kebede decidiu permanecer na Etiópia depois de sair da prisão Kality, em Addis Ababa, onde havia sido alojado em um pavilhão coletivo junto com 350 presos comuns. O governo rechaçou as tentativas de Kebede de obter uma licença de publicação após sua libertação, mas teve que ceder devido à pressão da opinião pública. Kebede lançou o Awramba Times em 2008, o único jornal do país em idioma amhárico que se atreve a questionar as autoridades. “Há três coisas que as pessoas precisam saber sobre mim”, afirma Kebede. “Primeiro, para mim é impossível viver sem a vida que levo como jornalista. Segundo, a menos que se torne uma questão de vida ou morte, nunca vou abandonar a Etiópia. E, terceiro, não sou opositor. Como repórter, qualquer que seja o regime que governe a Etiópia, nunca hesitarei em escrever sobre temas que impliquem uma crítica para a melhoria do país”.
Nadira Isayeva, Rússia
Isayeva, de 31 anos, enfrentou a fúria dos serviços de segurança na volátil região russa do Cáucaso Norte por sua cobertura sobre a violência e o islamismo militante na área. Como editora-chefe do semanário Chernovik na república meridional do Daguestão, criticou as agressivas táticas das agências estatais que lutam contra o terrorismo. Em 2008, as autoridades deram início a uma ação penal, com base na legislação antiextremista, depois que ela publicou uma entrevista com um ex-líder guerrilheiro que acusou as autoridades locais de corrupção e de submissão ao Kremlin. Isayeva acredita que o processo é uma represália pelo trabalho informativo do Chernovik. Se condenada, pode encarar uma pena de até oito anos de prisão. Ela e o jornal são habitualmente perseguidos por convocações oficias, auditorias financeiras e comissários estatais de “análises linguísticas”, que rotulam o conteúdo como extremista. Investigadores fizeram buscas na casa de Isayeva, confiscando seu computador pessoal, livros e arquivos. Um promotor local enviou uma notificação na qual afirma que ela tem que se submeter a uma avaliação psicológica. Desde junho de 2009, o órgão regulador do Estado tem tentado fechar a publicação por “atitudes hostis a funcionários das forças de segurança e por declarações extremistas”.
Laureano Márquez, Venezuela
Se houvesse uma mesa-redonda de Algonquin em Caracas, Laureano Márquez teria lugar garantido. Jornalista, escritor, ator e humorista, Márquez encontrou abundante material de trabalho no cenário político venezuelano. Ele é o flagelo do presidente Hugo Chávez e de outros políticos por suas mordazes colunas no jornal Tal Cual de Caracas e em outras publicações nacionais. Também é autor de três livros de humor, incluindo Código Bonchinche, best-seller de 2004. Em fevereiro de 2007, Márquez e o Tal Cual foram multados depois que um tribunal considerou que uma carta satírica dirigida à filha de Hugo Chávez “violara a honra, a reputação e a vida privada” da menina que na época tinha 9 anos. No artigo, intitulado “Querida Rosinés“, Márquez solicita à jovem que influencie seu pai a ser mais tolerante com opositores políticos. Em janeiro, Márquez, de 47 anos, escreveu um artigo para o Tal Cual no qual imaginava a Venezuela livre do poder opressor de um governante chamado “Esteban”, uma referência velada a Chávez. A então ministra de Comunicação e Informação, Blanca Eekhout, solicitou que o jornalista fosse criminalmente processado, descrevendo sua coluna como um assalto à democracia no país e uma conspiração golpista disfarçada de humor.
Mohammad Davari, Irã
Davari de 36 anos, editor-chefe do site de notícias Saham News, expôs os terríveis abusos no centro de detenção Kahrizak, gravando declarações em vídeo de detidos que afirmavam ter sido vítimas de violação, abuso e tortura. O centro foi fechado em julho de 2009 depois de uma manifestação pública, mas em setembro do mesmo ano a cobertura havia colocado Davari na prisão de Evin, onde ele cumpre uma condenação de cinco anos por “motim contra o regime”. Sua mãe escreveu ao secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, garantindo que seu filho foi torturado no centro de detenção. Atualmente em confinamento solitário, Davari não tem recebido permissão para ter contato com sua família por mais de oito meses. O jornalista pagou um preço altíssimo por realizar o seu trabalho. Quando era um jovem estudante, Davari foi voluntário para combater na guerra Irã-Iraque, na qual sofreu ferimentos em um olho e uma perna.
Prêmio em Memória de Burton Benjamin:
Aryeh Neier, Estados Unidos
O CPJ homenageará Aryeh Neier com o Prêmio em Memória de Burton Benjamin por sua ampla e distinta trajetória para promover a liberdade de imprensa. Neier é um pilar na comunidade de direitos humanos dos Estados Unidos e internacional. Permaneceu por oito anos na União Americana de Liberdades Civis, incluindo oito anos como seu diretor nacional. Foi fundador da Human Rights Watch em 1978 e dirigiu a organização como diretor-executivo durante doze anos, antes de juntar-se a Open Society Institute como presidente. Em 1981, quando um pequeno grupo de jornalistas norte-americanos quis ajudar colegas em dificuldades no exterior, Neier forneceu valiosos conselhos sobre como estabelecer uma organização sem fins lucrativos. Esta organização se tornou o CPJ, onde Neier participou da diretoria por muitos anos. Escreve frequentemente no New York Review of Books e tem publicado em numerosos veículos de comunicação, incluindo The New York Times Magazine, The New York Times Book Review, e Foreign Policy. Durante 12 anos escreveu uma coluna sobre direitos humanos no The Nation.
“Aryeh Neier é um verdadeiro pioneiro da liberdade de imprensa e dos direitos humanos”, afirmou o presidente da diretoria do CPJ, Paul Steiger. “Através de seu trabalho inovador na Human Rights Watch, sua liderança no Open Society Institute e seu jornalismo, Aryeh impulsionou a luta pela liberdade de imprensa e ajudou vários jornalistas e escritores em todo o mundo”. O prêmio Burton Benjamin à trajetória recebe seu nome em honra ao falecido produtor de notícias da CBS e ex-presidente da diretoria do CPJ, morto em 1988.
O CPJ também apresentará um dos ganhadores do Prêmio Internacional da Liberdade de Imprensa 2009, J.S. Tissainayagam do Sri Lanka, que estava encarcerado e não pôde receber o prêmio pessoalmente no ano passado. A campanha internacional do CPJ e de outros grupos ajudaram a obter a libertação de Tissainayagam em maio deste ano.
- O Prêmio Internacional da Liberdade de Imprensa, agora em sua vigésima edição, é o ponto central dos esforços anuais para angariação de fundos do CPJ.
- Para participar do jantar de premiação, por favor, contate o departamento de Desenvolvimento pelo telefone 212-465-1004 ramal 113.