Colômbia admite que soldados se passaram por jornalistas em operação de resgate

29 de julho de 2008

Juan Manuel Santos
Ministro de Defensa
Carrera 54 No. 26-25 CAN
Bogotá, Colombia

Prezado Senhor Santos,

Após a exitosa operação de resgate de reféns realizada em 2 de julho que culminou com a libertação de 15 pessoas seqüestradas pelas Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC), escrevemos para expressar nossa preocupação pelo fato de membros das forças de segurança terem se passado por jornalistas durante a missão. Nos inquieta que ao fingirem serem jornalistas possam ter aumentado ainda mais o perigo para a já assediada imprensa colombiana.

Durante o resgate, dois soldados colombianos fingiram serem jornalistas da cadeia de televisão estatal Telesur enquanto outros se passaram por trabalhadores humanitários, como seu governo depois reconheceu. O comandante das Forças Militares da Colômbia, General Freddy Padilla De León, também afirmou que os soldados que participaram da operação haviam recebido aulas de representação para saberem como se passarem por guerrilheiros, trabalhadores humanitários e jornalistas. 

No dia 23 de julho, durante uma coletiva de imprensa em Washington, V. Ex.a assegurou que o uso do logotipo da Telesur foi “um detalhe insignificante diante da magnitude” da operação. Entendemos o que estava em jogo e reconhecemos que 15 pessoas foram resgatadas durante a operação, mas existem riscos significativos no emprego de tais técnicas:

  • O uso de agentes como pretensos jornalistas eleva o risco para todos os repórteres, em particular para aqueles que cobrem o conflito civil de cinco décadas em regiões que são controladas pelos grupos ilegais armados. Nas áreas rurais, os jornalistas são freqüentemente ameaçados por guerrilheiros e paramilitares e pressionados por autoridades civis e militares, segundo as investigações conduzidas pelo CPJ.
  • Afeta a posição da imprensa como ente independente, especialmente os jornalistas que trabalham em áreas de conflito e confiam em seu status civil, tal como estabelece a Convenção de Genebra.  
  • Ao se passarem por jornalistas, as forças de segurança minam o papel da imprensa independente e trazem desconfiança em relação à profissão, provocando, em última instância, um dano ao bem público.

 A Colômbia continua sendo um dos países onde mais jornalistas morreram durante o cumprimento de seu trabalho, e tem o mais alto índice de assassinatos de jornalistas por porcentagem de população em toda a América Latina, segundo o Índice de Impunidade elaborado pelo CPJ. Mais, os assassinatos e outros atos de violência cometidos por todos os atores do conflito levaram muitos jornalistas e meios de comunicação a se autocensurarem quando cobrem temas sensíveis, como o CPJ documentou em um informe especial em 2005.

Acreditamos que o fato de se passarem por jornalistas é um acontecimento preocupante, em especial quando jornalistas no Iraque e no Afeganistão estão sendo seqüestrados e acusados de serem espiões.

Instamos o governo da Colômbia a considerar detidamente as implicações deste tipo de prática e a não minimizar as potenciais conseqüências que têm para a imprensa.

Agradecemos a sua atenção sobre estes urgentes temas e aguardamos sua resposta.

Atenciosamente,

Joel Simon
Diretor Executivo