CPJ insta as autoridades federais a investigar o assassinato de jornalista norte-americano

O Comitê para a Proteção dos Jornalistas (CPJ) enviou, hoje, a seguinte carta ao Procurador Geral da República, Daniel F. Cabeza de Vaca Hernández, instando as autoridades federais a investigar a fundo o assassinato do jornalista norte-americano Bradley Will, em Oaxaca.
30 de outubro de 2006
Daniel F. Cabeza de Vaca Hernández
Fiscal General de la República
Avenida Paseo de la Reforma #211-213
Col. Cuauhtémoc, Delegación Cuauhtémoc.
México D.F., C.P. 06500

Por fax: 52-55-5346-0901

Prezado Senhor Cabeza de Vaca,

O Comitê para a Proteção dos Jornalistas (CPJ) está chocado e indignado com a morte a balas do jornalista norte-americano Bradley Rolando Will, em Oaxaca, e insta as autoridades federais do México a investigarem a fundo o assassinato e a apresentar à justiça os responsáveis.

Will, de 36 anos, documentarista independente e jornalista do site de notícias Indymedia, foi baleado por volta das 17h30 de 27 de outubro, enquanto cobria os enfrentamentos entre ativistas do grupo antigovernamental Assembléia Popular do Povo de Oaxaca (APPO) e indivíduos armados no município de Santa Lucía del Camino, no estado de Oaxaca, ao sul do país.

Oswaldo Ramírez, fotógrafo do diário Milenio da Cidade do México, que estava com Will, e outros jornalistas mexicanos informaram ao CPJ que indivíduos armados dispararam contra um grupo de ativistas, entre os quais estavam os jornalistas cumprindo com seu trabalho. Will foi atingido na nuca e no abdômen.

Will estava cobrindo o conflito em Oaxaca há, pelo menos, seis semanas. Havia entrevistado testemunhas e ativistas, filmado protestos para um documentário sobre o conflito, conforme informou em um comunicado a Rede Oaxaquenha de Direitos Humanos. O conflito nesta cidade colonial começou em 22 de maio, quando uma greve de professores por melhores salários provocou uma onda de protestos antigovernamentais. Depois que o governador de Oaxaca, Ulises Ruiz Ortiz, ordenou dispersar os manifestantes com gás lacrimogêneo, grupos de esquerda, indígenas e estudantes se uniram aos protestos, que se tornaram violentos. Manifestantes da APPO solicitaram a renúncia do governador Ruiz desde o início do conflito. Vários jornalistas que cobriam os confrontos foram golpeados e intimidados pelos manifestantes, pela polícia e pelas forças de segurança à paisana, segundo a investigação do CPJ.

Durante uma coletiva de imprensa ontem, o prefeito de Oaxaca, Manuel Martinez, disse à imprensa que quatro funcionários públicos, incluindo dois policiais e um ex-funcionário foram detidos em conexão com o assassinato de Will. Segundo a imprensa mexicana, fotografias e gravações do incidente ajudaram as autoridades locais a identificar os suspeitos. Seguindo uma ordem do presidente Vicente Fox, forças federais fortemente armadas entraram em Oaxaca e desmantelaram a maioria das barricadas construídas pelos manifestantes no centro da cidade.

Como organização dedicada à defesa da liberdade de imprensa em todo o mundo, estamos alarmados porque foram identificados quatro funcionários públicos e um ex-funcionário como suspeitos no assassinato. Por esta razão, consideramos que a investigação deveria ser conduzida pelas autoridades federais.

Nos satisfaz saber que o gabinete do procurador especial David Vega Vera começou a recolher informação sobre o assassinato em Oaxaca, segundo declarou hoje um funcionário ao CPJ.

Em 22 de fevereiro deste ano, o presidente Vicente Fox designou Vega Vera, conhecido advogado e promotor dos direitos humanos, promotor especial para crimes contra jornalistas, em resposta à onda de violência contra a imprensa relacionada ao narcotráfico. O presidente mexicano decidiu adotar a medida depois de uma reunião com funcionários do CPJ em Nova York, no ano passado. Durante os oito meses desde a designação de Vega Vera, seu gabinete recebeu mais de 70 denúncias, que vão desde ameaças até seqüestros e assassinatos.

Nós os instamos a utilizar toda a autoridade do seu cargo para assistir ao promotor especial Vega Vera e assegurar que a morte de nosso colega seja investigada de forma exaustiva, e que os responsáveis sejam levados à justiça.

Sinceramente,


Joel Simon
Director Ejecutivo