Bogotá, Colômbia, 15 de março de 2006 – O presidente colombiano Álvaro Uribe Vélez assegurou hoje seu apoio aos jornalistas regionais que cumprem seu trabalho informativo sob ameaças de violência, e anunciou que qualquer funcionário que impeça seu trabalho “está cometendo um crime contra a democracia”.
Uribe tornou pública esta declaração instado por uma delegação do Comitê para a Proteção dos Jornalistas (CPJ) que se reuniu esta manhã com o presidente no escritório central de sua campanha para a reeleição, em Bogotá. O CPJ apresentou ao presidente Uribe suas preocupação pelos riscos que enfrenta a imprensa colombiana. Uribe busca um segundo mandato como presidente nas eleições previstas para 28 de maio.
O presidente reiterou seu apoio à liberdade de imprensa e disse que, apesar de sua administração não apreciar o fato dos meios de comunicação entrevistarem combatentes guerrilheiros ou paramilitares, o governo respeita seu direito a realizar tais entrevistas. O problema é crítico porque funcionários e comandantes militares regionais denunciam jornalistas que utilizam fontes não oficiais. O presidente enfatizou que qualquer funcionário que interfira com o trabalho da imprensa “está cometendo um crime, e isso é gravíssimo”.
Uribe também expressou seu apoio aos jornalistas que informam sobre corrupção e explicou que, ainda que a violência contra jornalistas tenha diminuído, o problema continua sendo uma das preocupações centrais de sua administração. “Não estaremos satisfeitos até poder dizer que nenhum jornalista foi ameaçado ou assassinado” disse Uribe. “O que me preocupa é que continuem assassinando jornalistas. Isso fere a mim, pessoalmente, e fere a Colômbia”.
O vice-presidente Francisco Santos também esteve presente na reunião de hoje com o subdiretor do CPJ, Joel Simon, e o coordenador do programa das Américas, Carlos Lauría.
O CPJ instou o presidente a efetuar uma declaração em resposta às preocupações contínuas sobre a autocensura na Colômbia, em particular nos departamentos onde os jornalistas são ameaçados pela guerrilha e pelos paramilitares, e pressionados por autoridades militares e civis. Somente em 2006, o CPJ documentou três casos de jornalistas regionais que foram obrigados a fugir de suas casas por ameaças e intimidações.
Diro César González, responsável pelo semanário La Tarde de Santander, foi obrigado a mudar-se para Bogotá em janeiro, após receber ameaças de morte. González teve que suspender a edição de seu diário, onde publicava informações sobre a corrupção, o conflito armado e atividades paramilitares no departamento de Santander.
No mesmo mês, Jenny Manrique, jornalista do diário Vanguardia Liberal, abandonou a cidade de Bucaramanga, também em Santander, depois de ter recebido ameaças de morte ao informar sobre abusos das forças paramilitares. Em fevereiro, a jornalista Olga Cecilia Vega se viu obrigada a sair do departamento de Caquetá quando foi ameaçada, após publicar uma entrevista com um líder guerrilheiro.
Na reunião de hoje, o vice-presidente anunciou que, em um esforço para combater a autocensura, realizará visitas regulares às regiões do interior do país para reunir-se com jornalistas e autoridades.
Em um informe especial, publicado em outubro e intitulado “Histórias não Contadas” (Historias no contadas), o CPJ concluiu que a autocensura é generalizada nas áreas de conflito. O informe, escrito pelo jornalista radicado em Bogotá Chip Mitchell, se baseou em entrevistas com mais de 30 jornalistas em vários departamentos onde o conflito armado é agudo, como Arauca, Córdoba e Caquetá. Os jornalistas admitiram que se autocensuram por medo de represálias dos atores do conflito armado, assim como pela pressão por parte de funcionários do governo e do exército colombiano. Em outros casos, jornalistas asseguram haver abandonado investigações após serem intimidados. O CPJ concluiu que a autocensura é mais forte em regiões isoladas, onde a presença governamental é débil e a proteção do Estado é mínima.
Simon apresentou o informe ao vice-presidente Santos em uma reunião em outubro passado. Leia “Historias no contadas”, em espanhol, em: http://www.cpj.org/Briefings/2005/DA_fall05/colombia/Colombia_report_Spanish.pdf
Vinte e oito jornalistas colombianos morreram no exercício da profissão durante a última década, como demonstra a investigação do CPJ, ainda que a violência tenha diminuído nos últimos dois anos. Um jornalista colombiano foi assassinado em 2005. A débil presença do Estado em amplas áreas do país deixa os jornalistas vulneráveis a grupos armados ilegais. Jornalistas em Bogotá e outros centros urbanos trabalham com mais liberdade que seus colegas do interior, ainda que também eles tenham que enfrentar pressões e intimidações. Em certas ocasiões, funcionários públicos também contribuem para o clima de medo ao acusarem os jornalistas de terem vínculo com a guerrilha.
Segundo a análise do CPJ, o resultado é uma limitação freqüente na cobertura de temas cruciais para os eleitores colombianos, incluindo os abusos dos direitos humanos, o crime e a corrupção, especialmente quando se aproxima a data das eleições presidenciais de maio.
O CPJ também concluiu que a impunidade continua sendo a norma na Colômbia. Um sistema de justiça sobrecarregado tem sido incapaz de resolver a maioria dos casos de jornalistas mortos na última década. Segundo informou o CPJ em maio, o assassinato é a causa mais importante de mortes relacionadas com o trabalho jornalístico no mundo, e os assassinatos cometidos com impunidade representam a mais grave ameaça contra os jornalistas.