O CPJ preocupado com ameaças a jornalista

Estimado Sr. Millán:

O Comitê para a Proteção dos Jornalistas (CPJ), organização independente e sem fins lucrativos radicada em Nova York, que se dedica a defender a liberdade de imprensa em todo o mundo, está sumamente preocupado com a situação da jornalista mexicana Irene Medrano Villanueva, que foi intimidada e ameaçada durante os últimos dois meses por causa de seu trabalho jornalístico.

Medrano, repórter do diário El Sol de Sinaloa, com sede em Culiacán, no noroeste do estado de Sinaloa, recebeu várias ameaças de morte depois de publicar uma série de reportagens sobre a proliferação da prostituição infantil em Culiacán.

De agosto a outubro de 2003, Medrano escreveu uma série de reportagens onde informava que algumas casas de encontro e casas de massagem locais estavam empregando menores de idade. Medrano também criticava as autoridades municipais por não atuar contra as casas de encontro e casas de massagem que empregavam menores.

Em 16 de dezembro de 2003, Medrano publicou a última reportagem da série, que dava a conhecer a forma como eram recrutadas menores de idade nas escolas públicas e privadas para a prostituição. As reportagens citavam o testemunho das vítimas e dados do Sistema Nacional para o Desenvolvimento Integral da Família, a agência governamental para a proteção do menor e da família, que também havia criticado as autoridades locais por não tomarem medidas contra tais abusos.

As ameaças começaram no mesmo dia em que foi publicada a última reportagem. Uma pessoa não identificada telefonou para o jornal e disse que Medrano iria morrer. Nessa mesma noite, outro indivíduo ligou para a casa da jornalista e lhe disse que ela havia assinado “sua sentença de morte”.

Em 8 de dezembro, após descobrir que haviam pintado a palavra “morte” em seu carro, Medrano apresentou denúncia junto a Procuradoria Geral de Justiça do Estado (PGJE) de Sinaloa. Nessa noite, um indivíduo ligou para a casa da jornalista e lhe disse que ela era uma “delatora” e que havia adiantado sua sentença de morte. A PGJE, então, designou um guarda-costas para acompanhar Medrano e protegê-la por cinco dias.

Em 13 de dezembro de 2003, enquanto Medrano se dirigia ao trabalho acompanhada do segurança, um carro sem placas se aproximou por trás, bateu no carro três vezes e fugiu. Em 14 de dezembro, ao ver que haviam quebrado o pára-brisa do seu carro, a jornalista chamou a Polícia Ministerial, que se apresentou no dia seguinte para recolher evidências. Um novo guarda de segurança foi designado para acompanhar Medrano.

Medrado relatou ao CPJ que, sentindo-se pressionada, pediu uma licença do trabalho para se ausentar por uns dias. Ao regressar, quando estava se dirigindo ao trabalho em 28 de dezembro, Medrano tentou parar num sinal vermelho, mas os freios não responderam e seu carro bateu contra um táxi. Ao levar o carro à oficina, um mecânico lhe disse que a mangueira do freio havia sido cortada.

No começo de janeiro de 2004, as ameaças se intensificaram. Em 8 de janeiro, agentes da PGJE instalaram um identificador de chamadas com gravador no telefone de Medrano para registrar as chamadas. Em 12 de janeiro, imediatamente após a primeira ligação, feita de um telefone público, outra ameaça ficou registrada. Segundo Medrano, a PGJE informou que a ligação procedia do escritório de Jesús Enrique Hernández Chávez, prefeito de Culiacán. Como a investigação se encontra na etapa de averiguação prévia, a PGJE não pode divulgar nenhuma informação sobre as diligências, salvo para as partes envolvidas.

Em 16 de janeiro, Medrano denunciou as ameaças em coletiva de imprensa que realizou com o apoio das duas principais associações de jornalistas de Sinaloa. Segundo o diário da capital El Universal, em 19 de janeiro Hernández Chávez compareceu aos escritórios da PGJE, em Culiacán, para entregar uma resposta por escrito sobre as ameaças telefônicas provenientes de seu escritório. O prefeito não é considerado um suspeito na investigação, mas foram solicitadas informações já que as chamadas foram feitas de seu escritório, segundo versões da imprensa local. O diário de Sinaloa Noroeste informou que Hernández Chávez pediu que se investigasse a fundo as ameaças e se encaminhassem à justiça os responsáveis. Hernández Chávez também expressou seu respeito pelo trabalho da jornalista, segundo o Noroeste, mas evitou fazer declarações à imprensa.

Não obstante, as ameaças telefônicas continuaram e o carro de Medrano foi seguido no final de janeiro, conforme comentou a jornalista na semana passada.

Medrano foi ameaçada por informar sobre um assunto de interesse público. Dado que as autoridades estatais estão investigando o caso, nós o instamos, na qualidade de governador de Sinaloa, a realizar uma investigação exaustiva das ameaças contra Medrano e a assegurar-se que os responsáveis sejam castigados com todo o peso da lei. Além disso, o exortamos a assegurar-se de que todos os jornalistas de Sinaloa possam exercer seu trabalho sem o temor de represálias.

Sinceramente,

Ann Cooper
Diretora-Executiva