Rio de Janeiro, 9 de junho de 2022 – As autoridades brasileiras devem ampliar seus esforços na busca pelo jornalista Dom Phillips e o indigenista Bruno Pereira que estão desaparecidos, disse quinta-feira o Comitê para Proteção de Jornalistas (CPJ).
Phillips e Pereira desapareceram na manhã de domingo, 5 de junho.
Phillips, jornalista britânico freelancer que reside no Brasil, já colaborou com o The Guardian, Financial Times, Washington Post e New York Times cobrindo mineração ilegal, desmatamento e questões de direitos humanos na Amazônia. Ele e Pereira estavam em uma viagem investigativa, para um livro que Phillips está escrevendo, no território indígena do Vale do Javari, no estado do Amazonas, perto da fronteira com o Peru, quando desapareceram.
Na terça-feira, a União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (UNIVAJA) e o Observatório dos Direitos Humanos dos Povos Indígenas Isolados e de Recente Contato (OPI) disseram, em uma declaração conjunta, que as autoridades ainda não haviam criado uma força-tarefa para procurar a dupla, e que pouquíssimo pessoal havia sido deslocado para a área.
Em uma declaração publicada na quarta-feira, o The Guardian chamou a resposta do governo de “na melhor hipótese lenta e decepcionante” e disse que “muito tempo já foi perdido”.
Também na quarta-feira, a 1ª Vara Federal Cível no Amazonas determinou que o governo federal aumentasse o pessoal e os veículos, barcos, helicópteros, usados nas buscas de Phillips e Pereira, de acordo com várias reportagens veiculadas.
“As autoridades brasileiras devem redobrar seus esforços para encontrar o jornalista Dom Phillips e o indigenista Bruno Pereira. As polícias devem garantir que as investigações sejam transparentes e que todas as pistas sejam seguidas para responsabilizar os envolvidos em seu desaparecimento”, disse Carlos Martinez de la Serna, diretor de programas do CPJ, em Nova York. “No Brasil, há um claro padrão de ameaças e ataques a jornalistas e ativistas que documentam questões ambientais e violações dos direitos dos povos indígenas, e as autoridades ainda não implementaram mecanismos eficazes para sua proteção”.
Em declaração enviada por e-mail ao CPJ, o Ministério da Defesa brasileiro disse que “imediatamente empregaram os meios necessários para a realização das buscas”, incluindo barcos, um helicóptero e pessoal militar.
No dia anterior ao desaparecimento, um grupo de pescadores trabalhando ilegalmente na área ameaçou Phillips e Pereira, que viajavam juntos a membros da UNIVAJA, de acordo com informações da imprensa que relataram que os homens passaram de barco e mostraram suas armas para eles.
Na quarta-feira, a polícia prendeu um dos homens que exibiram as armas, segundo os relatos da imprensa, que acrescentou que a polícia também havia apreendido um barco e munições ilegais com o mesmo. Um ativista da UNIVAJA identificou o suspeito como sendo o mesmo homem que havia disparado anteriormente nos barcos de patrulha da UNIVAJA, de acordo com essas reportagens.
Segundo o jornal brasileiro O Globo, a polícia alega que o suspeito e outros quatro homens seguiram Phillips e Pereira depois que ambos saíram da comunidade de São Rafael no início da manhã de domingo. Uma testemunha citada nessa matéria disse ter visto o suspeito carregando uma espingarda e empacotando munição no domingo de manhã.
Entretanto, em uma entrevista coletiva na quarta-feira, o Secretário Geral de Segurança Pública do Amazonas, Carlos Alberto Mansour, disse que o suspeito foi preso por posse de drogas e munições ilegais, mas que “ainda não fizemos ligação dele com o fato do desaparecimento”.
O Secretário acrescentou que as autoridades estavam investigando o caso como um desaparecimento, dizendo que “ainda não temos indícios fortes de crime”, e que haviam entrevistado cinco testemunhas.
Durante a coletiva de imprensa, Mansour disse que “estamos com esperança de encontrá-los ainda com vida”. Ele e o superintendente da Polícia Federal, Eduardo Fontes, defenderam a resposta do governo listando o pessoal e os veículos destacados para a busca.
O Coordenador Executivo do OPI, Fabio Ribeiro, disse ao CPJ através de um aplicativo de mensagens que o Vale do Javari é “o segundo maior território indígena do Brasil, onde há registros de atividades de narcotráfico, madeireira, pesca clandestina, garimpeira”.
Ele disse que a situação “pirou nos últimos anos principalmente com o desmonte das políticas públicas de proteção a povos indígenas”.
Quando o CPJ enviou um e-mail ao gabinete do presidente Jair Bolsonaro para comentários, um representante encaminhou esse pedido à FUNAI e à polícia federal; a FUNAI não respondeu imediatamente, e a polícia federal referiu o CPJ para a coletiva de imprensa de quarta-feira.