Miami, 1º de maio de 2019 – O Comitê para a Proteção dos Jornalistas (CPJ) instou hoje as autoridades venezuelanas a absterem-se de restringir o acesso à Internet, serviços de mídia social e agências de notícias no país durante os protestos generalizados e a agitação política.
A NetBlocks, organização independente da sociedade civil que monitora a censura digital, informou ontem que o provedor de internet estatal CANTV restringiu o acesso a vários sites e plataformas de mídia social, incluindo Twitter, Facebook, YouTube, Google e serviços Android. As paralisações coincidiram com os protestos que ocorreram depois que o líder da oposição, Juan Guaidó, convocou os venezuelanos a se juntarem a um levante militar que pretende retirar o presidente Nicolás Maduro do poder, segundo informações da imprensa. Manifestações de partidários de Maduro e Guaidó, que também reivindica a presidência, continuaram hoje, segundo as reportagens. A conectividade foi restaurada às 21h05, cerca de 20 minutos antes de um discurso ao vivo de Maduro, de acordo com a NetBlocks. A NetBlocks informou hoje que a CANTV restringiu o acesso ao YouTube e aos serviços do Google no mesmo horário em que Guaidó fez um discurso em Caracas.
A CNN informou que na tarde de ontem a agência estatal de telecomunicações CONATEL ordenou que os provedores de TV a cabo bloqueassem suas transmissões momentos depois da exibição de um vídeo mostrando um veículo militar blindado atropelando intencionalmente manifestantes pró-oposição em Caracas; a CNN informou que a BBC foi retirada do ar também. A CNN e a BBC permanecem fora do ar, de acordo com duas fontes na Venezuela que falaram com o CPJ, mas pediram para permanecer anônimas por razões de segurança. A RCR, estação de rádio privada mais antiga da Venezuela, informou pelo Twitter que agentes da CONATEL apareceram em seus estúdios de Caracas às 11h00 de ontem e ordenaram que a estação saísse do ar; seus apresentadores confirmaram hoje, também pelo Twitter, que continuavam fora do ar.
“Estamos alarmados com a censura cada vez mais descarada na Venezuela, incluindo a restrição repetida e seletiva do acesso à internet, uma medida popular em regimes autoritários”, disse em Nova York a coordenadora do programa do CPJ para as Américas Central e do Sul, Natalie Southwick. “As autoridades venezuelanas devem garantir que todas as plataformas de internet e meios de comunicação – digital, rádio e televisão – estejam disponíveis para os cidadãos que buscam acessar e compartilhar informações”.
A atual crise política impôs riscos e desafios aos jornalistas na Venezuela. Os apagões periódicos na internet suprimiram informações sobre a crise, documentou o CPJ. Enquanto isso, jornalistas locais e internacionais têm enfrentado prisões arbitrárias, confisco de equipamentos, assédio e violência nas mãos de vários grupos, incluindo forças de segurança do Estado, manifestantes e civis armados, de acordo com a pesquisa do CPJ.