Bogotá, 16 de junho de 2016 – Altos funcionários bolivianos, enfurecidos com a cobertura informativa de um escândalo de tráfico de influências no governo, que contribuiu para acabar com a esperança de reeleição do presidente Evo Morales, estão desancando a mídia independente do país e exigindo que os jornalistas sejam presos.
Num discurso na quarta-feira, o vice-presidente Álvaro García Linera declarou que vários meios noticiosos haviam mentido ao país e difamado a Morales no período que antecedeu ao plebiscito de fevereiro, no qual os eleitores rejeitaram, por uma pequena margem, a emenda constitucional que teria permitido a Morales candidatar-se a um quarto mandato consecutivo.
“Essas acusações infundadas e as ameaças contra a mídia boliviana têm o evidente propósito de restringir a cobertura jornalística de assuntos confidenciais”, declarou, em Nova York, o coordenador sênior do programa das Américas do CPJ, Carlos Lauría. “Instamos as autoridades bolivianas a se absterem de ameaçar os jornalistas por seu trabalho e permitir que a mídia trabalhe sem interferências.”
O vice-presidente também criticou os jornalistas por artigos que investigavam se ainda estava vivo o filho de Morales e Gabriela Zapata, sua ex-namorada, que foi acusada de tráfico de influências.
“Os responsáveis precisam ir para a cadeia”, declarou García Linera. “A lei se aplicará a todos esses mentirosos.”
García Linera apontou os jornais independentes Página Siete, Los Tiempos, e El Deber, a rede de rádio emissoras Erbol , e a Agência de Notícias Fides, dirigida pela igreja católica. Linera afirmou que esses meios faziam parte de uma “máfia mediática-política” que havia “agredido impiedosamente” a Morales.
Seu discurso segue as declarações feitas no mês passado pelo ministro da presidência, Juan Ramón Quintana, que chamou esses meios noticiosos de um “cartel de mentirosos” cujo verdadeiro objetivo era bloquear as reformas econômicas e políticas do governo esquerdista.
Depois das declarações de Quintana, Carlos Valverde, jornalista televisivo que cobriu de perto o escândalo, fugiu para a Argentina e depois para o Brasil, segundo o noticiário. Outro jornalista boliviano, Wilson García Mérida, redator do jornal Sol de Pando fugiu para o Brasil no mês passado depois de ter declarado que Quintana o havia acusado de sedição, segundo noticiário.
O escândalo eclodiu em janeiro, quando os meios noticiosos bolivianos informaram que uma empresa chinesa que empregava Zapata havia obtido indevidamente contratos públicos no valor de meio bilhão de dólares. O governo de Morales negou haver atuado ilicitamente mas depois prendeu Zapata abruptamente, e a acusou de tráfico de influências. Zapata, falando do cárcere a jornalistas, em março de 2016, contradisse as declarações de Morales de que a criança que ela e Zapata haviam tido, havia morrido quando bebê, e que a criança continuava viva. Mais tarde, Zapata se retratou, e disse que o bebê havia morrido em 2009.
O CPJ solicitou declarações dos ministérios da Comunicação e da Presidência, sem obter resposta.