Nova York, 18 de dezembro de 2012 – As autoridades brasileiras devem oferecer imediatamente proteção ao jornalista Mauri König, que passou a se esconder na segunda-feira depois de receber ameaças de morte relacionadas com suas reportagens sobre corrupção policial, disse hoje o Comitê para a Proteção dos Jornalistas.
Na segunda-feira, a redação do diário Gazeta do Povo, onde König trabalha como repórter investigativo, recebeu vários telefonemas anônimos de pessoas alertando que o jornalista estava em perigo. Naquela manhã, o jornal havia publicado um novo texto, dando seguimento a uma série de reportagens de maio nas quais König e uma equipe de jornalistas revelou que policiais estavam usando seus veículos oficiais para fins pessoais, como ir à praia ou visitar prostíbulos. No mesmo mês, König e a equipe expuseram um esquema de desvio de fundos designados à manutenção de delegacias desativadas ou inexistentes.
König contou ao CPJ que começou a receber ameaças imediatamente após a publicação das reportagens de maio, inclusive comentários anônimos em um blog frequentado por policiais que o classificaram como “Inimigo Público Número Um”. König disse que as ameaças de segunda-feira pareciam ser mais graves. Em pelo menos um dos telefonemas, alguém que se identificou como policial, mas não quis dizer o nome, advertiu sobre um plano para matar König e falou que vários policiais do Rio de Janeiro haviam chegado a Curitiba e planejavam metralhar a sua casa. O jornalista se escondeu com a família e falou com o CPJ de um local não revelado.
Esta não é a primeira vez que König, um dos principais jornalistas investigativos do país, enfrenta represálias por suas reportagens. Em 2000, enquanto investigava para uma série de artigos sobre o recrutamento e sequestro de crianças brasileiras para o serviço militar no Paraguai, König foi brutalmente espancado com correntes, estrangulado e largado para morrer perto da fronteira do Brasil, supostamente por três policiais paraguaios. Em 2003, foi forçado a abandonar sua pesquisa ao longo na região fronteiriça de Brasil, Paraguai e Argentina, depois de receber ameaças da policia local. Nenhum desses casos foi solucionado. Suas abrangentes investigações, nas quais expôs abusos de direitos humanos e corrupção, lhe trouxeram reconhecimento mundial e inúmeros prêmios jornalísticos, incluindo Prêmio Internacional da Liberdade de Imprensa 2012 do CPJ, que recebeu em novembro em Nova York.
“Mauri König pagou, várias vezes, o preço por seu excepcional trabalho de investigação. As autoridades brasileiras são responsáveis por chegar ao fundo destas ameaças, mantendo König seguro, e garantindo que ele possa continuar a informar sobre questões de importância vital para o público brasileiro “, disse o coordenador sênior do programa das Américas, Carlos Lauría.
Segundo a análise de fim de ano do CPJ sobre jornalistas mortos no exercício da profissão, publicada hoje, quatro jornalistas brasileiros foram assassinados em represália direta por suas reportagens em 2012, o número mais alto na região. Dos quatro, três haviam informado sobre corrupção. Em um post no blog, que acompanha o relatório de hoje, König escreveu sobre a impunidade nos casos de homicídio de jornalistas no Brasil, Uma situação que deixou o país classificado como 11º pior no Índice de Impunidade do CPJ, que calcula percentual de assassinatos de jornalistas não resolvidos em relação à população de cada país.
“O caso de König é emblemático de um fenômeno preocupante nos quase dois anos da presidência de Dilma Rousseff, durante os quais o número de jornalistas brasileiros assassinados foi o mais alto em uma década. Ainda mais preocupante é que a maioria desses homicídios ocorreu em represália por reportagens sobre corrupção governamental “, disse Lauría. “A Presidente Dilma não pode permitir a contínua matança de jornalistas por informarem sobre maleficências do governo e agências de aplicação da lei. Pedimos à presidente que garanta a segurança da imprensa e para que trabalhe no combate à impunidade generalizada em prévios assassinatos de jornalistas.”