Na quinta-feira, centenas de policiais militares tomaram quartéis por todo o país, em sinal de protesto por uma lei aprovada no dia anterior que reduziria seus benefícios, segundo as informações da imprensa local e internacional. O governo declarou estado de exceção, e o Ministério da Comunicação enviou uma diretiva pela qual ordenava às emissoras de rádio e televisão que transmitissem a programação da Ecuador TV, o canal estatal.
As redes nacionais Ecuavisa, Telamazonas e Canal Uno interromperam sua programação regular ao redor das 14h00 para transmitir o sinal da Ecuador TV, afirmaram jornalistas equatorianos. A Ecuador TV cobriu os eventos pela perspectiva do governo, entrevistando uma série de funcionários de alto escalão, disseram os jornalistas. O ministério suprimiu a diretiva por volta das 20h00 e as emissoras retomaram a transmissão de seus próprios conteúdos pouco tempo depois, de acordo com os jornalistas.
A ordem do ministério, que foi examinada pelo CPJ, se baseia em uma Lei de Radiodifusão e Televisão que permite ao presidente e a membros de seu governo descontinuar a programação das emissoras para transmitir mensagens oficiais. Entretanto, nem Correa nem o governo transmitiram mensagens oficiais, de acordo com as informações da imprensa. Em vez disso, a ordem interrompeu a cobertura dos meios de comunicação independentes e impediu os cidadãos de contar com informações equilibradas nos momentos mais críticos, disse ao CPJ o editor-chefe de informação regional da Ecuavisa, Freddy Barros.
Membros rebelados das forças de segurança invadiram os estúdios da Ecuador TV por volta das 18h30 e interromperam a programação oficial, segundo informação da agência de notícias EFE. Um grupo de cidadãos também se reuniu em frente das instalações do canal estatal para protestar contra a ordem do governo, de acordo com o jornal o El Universal, com sede em Guayaquil.
“Estamos consternados pela violência desencadeada contra jornalistas que cobriam estes incidentes, e instamos as autoridades a levar os responsáveis à justiça”, afirmou Rob Mahoney, subdiretor do CPJ. “Também estamos preocupados com a decisão do governo de utilizar os poderes de emergência para ordenar a transmissão de uma única programação produzida pelo canal estatal. Isto privou a audiência de diferentes opções de informação em um momento crítico”.
Ao menos 22 repórteres e fotógrafos foram atacados ou ameaçados enquanto cobriam a rebelião policial por todo o país, segundo a organização de liberdade de imprensa Fundamedios, com sede em Quito. Houve relatos de que os rebelados agrediram e, inclusive, jogaram bombas de gás lacrimogêneo contra os jornalistas locais e internacionais. Também incendiaram e confiscaram ilegalmente os equipamentos de repórteres, informou a Fundamedios.
O caos atingiu seu ápice quando agentes rebelados atiraram uma bomba de gás lacrimogêneo contra Correa, enquanto este tentava dialogar com os manifestantes em um regimento de Quito. Correa foi levado a um hospital devido aos efeitos do gás. Policiais rebelados o impediram de sair do centro de saúde por 11 horas, segundo as informações da imprensa equatoriana. Efetivos do exército invadiram o hospital e resgataram o presidente por volta das 21h00, noticiou o El Universal.
Correa acusou os rebelados de tentar um golpe de estado, e prometeu investigar e processar os responsáveis pela rebelião. Informes da imprensa indicaram que duas pessoas morreram durante a revolta.