Bogotá, 17 de fevereiro de 2010 – O presidente colombiano Álvaro Uribe Vélez afirmou nesta terça-feira que os funcionários que ilegalmente espionaram a imprensa são “inimigos do seu governo”, durante uma reunião com uma delegação composta pelo Comitê para a Proteção dos Jornalistas (CPJ) e a Fundação para a Liberdade de Imprensa (FLIP, por sua sigla em espanhol).
Uribe emitiu esta declaração depois de conhecer as preocupações levadas pela delegação do CPJ e FLIP, em uma reunião de aproximadamente duas horas com o presidente e funcionários do alto escalão no Palácio de Nariño, sede do governo colombiano. Entre os participantes estavam o vice-presidente Francisco Santos Calderón, o ministro do Interior e Justiça, Fabio Valencia Cossio, o diretor do Departamento Administrativo de Segurança (DAS), Felipe Muñoz, e o diretor da Polícia Nacional, general Oscar Naranjo Trujillo, entre outros funcionários.
O CPJ e a FLIP haviam apresentado de manhã seus relatórios anuais em uma coletiva de imprensa na Universidad Javeriana, em Bogotá. Segundo ambos os informes, a espionagem ilegal de jornalistas é uma das mais sérias ameaças enfrentadas pela liberdade de imprensa na Colômbia. Os jornalistas locais tiveram seus telefones e contas de correio eletrônico interceptados, e foram objeto de vigilância e acosso entre 2004 e 2006, segundo a Procuradoria. O CPJ e a FLIP também tiveram alguns de seus e-mails interceptados. Segundo uma investigação preliminar e versões de jornalistas locais ao CPJ e à FLIP, a espionagem ilegal teria continuado até depois de fevereiro de 2009, quando foram publicadas as primeiras notícias sobre o escândalo.
A delegação do CPJ e da FLIP solicitou ao presidente Uribe uma resposta enérgica às preocupações existentes em relação à espionagem ilegal. O presidente reiterou que a Colômbia tem um governo democrático que “não aceita a ilegalidade”. Uribe afirmou: “Quem afeta a liberdade de um jornalista e quem intercepta é inimigo do governo”.
A delegação foi composta por Maria Teresa Ronderos, membro do conselho administrativo do CPJ e uma das mais proeminentes jornalistas colombianas; pelo ganhador do prêmio do CPJ e presidente do conselho administrativo da FLIP, Ignacio Gómez; pelo coordenador sênior do programa das Américas do CPJ, Carlos Lauría; e pelo diretor executivo da FLIP, Andrés Morales.
Os integrantes da delegação informaram ao presidente Uribe e demais funcionários colombianos que os jornalistas estão tomando medidas extraordinárias para evitar que suas comunicações sejam interceptadas, e os exortaram a apoiar as investigações. “Dói-me que os responsáveis não tenham sido capturados”, afirmou Uribe. O general Naranjo disse que a polícia nacional compartilha a frustração do presidente a respeito da investigação, mas insistiu em destacar os esforços que tem sido realizado até o momento.
Como consequência da espionagem generalizada, as fontes confidenciais se viram em risco e se mostraram reticentes em falar com jornalistas colombianos, explicaram vários repórteres ao CPJ e à FLIP. Uribe disse que seu governo não vai permitir “qualquer ação que interfira com o trabalho da imprensa”. O vice-presidente Santos declarou que o governo vai “assumir sua responsabilidade com base em sentenças judiciais firmes”.
Desde que o escândalo se tornou conhecido, o escritório da Procuradoria Geral iniciou as investigações que levaram a prisão de vários funcionários de alto escalão da inteligência local em 2009, incluindo o ex-subdiretor do DAS José Miguel Narváez. No total, 40 funcionários do DAS estão sendo investigados. Sete deles foram indiciados em janeiro e podem enfrentar julgamentos em breve. “Aqueles que restringem a liberdade de um jornalista devem ser processados”, disse Uribe.
Durante a reunião com o promotor geral Guillermo Mendoza Diago, realizada na segunda-feira, a delegação também falou com o Procurador Geral Alejandro Ordóñez. O escritório de Ordóñez está investigando 26 funcionários que poderiam estar envolvidos na espionagem e tem o poder de impor sanções disciplinares contra eles. Entre os investigados, segundo Ordóñez, estão três funcionários do alto escalão do poder executivo.
Enquanto os nomes destes assessores foram revelados pelo escritório do procurador em junho, Uribe defendeu os funcionários e disse que rechaçava qualquer tipo de pressão por parte dos meios de comunicação para “processar pessoas inocentes”. Uribe também disse estar preocupado que a falta de resultados concretos na investigação fosse utilizada para manipular politicamente o seu governo.
Tanto o ministro do Interior e de Justiça como o diretor do DAS, que participaram de uma reunião na segunda-feira com a delegação do CPJ e FLIP, emitiram declarações reagindo aos relatórios publicados pelas organizações. Ambas as declarações reafirmam que a espionagem ilegal não era uma política de Estado e que eles estavam colaborando com a investigação.
A delegação também exortou as autoridades a se absterem de acusar, sem nenhuma evidência, membros da imprensa de terem vínculos com grupos armados, já que isto coloca em sério risco a vida dos repórteres.
O CPJ é uma organização independente sem fins lucrativos sediada em Nova York e se dedica a defender a liberdade de imprensa em todo o mundo.