“Certain stories involving highly placed people–we think it’s best not to touch those,” said one journalist.
Maputo, Mozambique, July 19, 2001–Eight months after the murder of investigative journalist Carlos Cardoso, Mozambican journalists told a delegation from the New York-based Committee to Protect Journalists (CPJ) that they are afraid to cover sensitive stories, particularly those involving corruption.
The delegation included CPJ board member Clarence Page, a columnist for the Chicago Tribune; CPJ deputy director Joel Simon; CPJ Africa program coordinator Yves Sorokobi; South African journalist Phillip van Niekerk; and Mozambican journalist Fernando Lima.
During a four-day visit to the Mozambican capital, Maputo, CPJ representatives met with dozens of journalists from print and broadcast media, both state-owned and private. The delegation was also received by high- ranking Mozambican government officials. All of the officials articulated a commitment to press freedom.
Journalists, however, presented a different picture. While there is no official censorship, journalists described many episodes of self-censorship. Several told CPJ that certain stories are off limits, particularly those involving corruption.
“There is fear when you get into the hardest part of the news,” one journalist said in an interview with the delegation. Another said, “Certain stories involving highly placed people–we think it’s best not to touch those.”
These findings are particularly disappointing given that CPJ and other press freedom organizations have been encouraged by Mozambique’s past record. The country is known for an environment in which both independent and state-sponsored media have competed freely, without official interference.
CPJ’s preliminary findings were outlined at a press conference in Maputo this morning. A more detailed report will be released at a later date.
Cardoso murder casts a shadow
Every person interviewed by the CPJ delegation agreed that the murder of Cardoso has left a serious gap in aggressive, investigative reporting. Many journalists said they were now afraid to follow in Cardoso’s footsteps.
Cardoso was a veteran independent journalist who edited the daily fax newsletter Metical. He was shot dead on November 22, 2000, as he left his paper’s offices in the Maputo suburb of Polana. After two vehicles cut off Cardoso’s car, two unidentified assassins opened fire with AK-47 assault rifles, killing him instantly and seriously wounding his driver.
Cardoso, 48, was one of Mozambique’s foremost media personalities. He was internationally acclaimed for his groundbreaking reporting on political corruption and organized crime in Mozambique, a country that is still recovering from a brutal, decades-long civil war.
Earlier in his career, Cardoso served as editor and later director of Mozambique’s state news agency AIM, from which he resigned in 1989. Before founding Metical in 1998, Cardoso ran another independent fax newsletter, Mediafax, which he launched in 1992. He sympathized politically with FRELIMO but often lambasted the government in his editorials.
Recommendations
Although a more detailed report will be released later, CPJ urges immediate steps by the Mozambique government to reduce the level of fear and foster a healthy media environment:
- CPJ calls on the government to publicly reaffirm its respect for the role of the press as a check on abuses of power. Journalists who pursue stories involving official corruption must be able to count on the full protection and support of authorities.
- CPJ urges the government to make the Cardoso murder investigation an ongoing priority and to aggressively pursue all avenues, regardless of where they lead. The best way to combat self-censorship is through a vigorous pursuit of justice in this case.
The CPJ delegation thanked the numerous government officials and private citizens who offered valuable information about Cardoso and the investigation.
However, the delegation expressed concern that a climate of fear surrounds the investigation. For example, one person who declined to meet with CPJ claimed to have received death threats. Several others cancelled meetings at the last minute.
END
Oito meses após a morte do jornalista Carlos Cardoso, as redacções moçambicanas foram invadidas por uma atmosfera de medo. Os jornalistas disseram à nossa delegação que têm receio em cobrir temas sensíveis, particularmente aqueles que envolvem corrupção.
A delegação do CPJ (Comité de Protecção dos Jornalistas) esteve em Maputo nos últimos quatro dias, tendo realizado encontros com dezenas de jornalistas da imprensa escrita, rádio e televisão, do sector privado e do sector de Estado. A delegação foi também recebida por entidades do Governo e do Estado. Notamos com apreço, que todos os funcionários com que nos avistámos mostraram um firme cometimento pela liberdade de imprensa.
Os jornalistas têm contudo uma visão diferente. Embora não exista censura, os jornalistas relataram vários episódios de auto-censura. Muitos disseram-nos que alguns temas não devem ser tocados, particularmente os que envolvem questões de corrupção.
Um jornalistas contou-nos: “o medo começa quando atingimos a parte mais crucial da história.” Outro disse-nos, “certas histórias envolvendo pessoas bem colocadas na hierarquia, achamos melhor não lhe tocar.”
Estas constatações desapontam-nos particularmente, dado que o CPJ e outros organismos que trabalham na área da liberdade de imprensa deram a Moçambique a mais alta credibilidade. O país é conhecido por ter um ambiente em que, quer os media independentes, quer os media apoiados pelo Estado competem em liberdade e sem interferência oficial.
Infelizmente, todos os nossos interlocutores nos declararam que a morte de Carlos Cardoso criou um sério vazio no agressivo jornalismo de investigação. Muitos jornalistas nos disseram que eles e os seus colegas têm receio de seguir o seu exemplo profissional.
Para reduzir este clima de medo e encorajar um ambiente sadio no seio dos media, apelamos para que o Governo moçambicano reafirme publicamente o seu respeito pela imprensa como veículo de denúncia dos abusos de poder. Os jornalistas que trabalhem em assuntos envolvendo a corrupção de funcionários governamentais devem contar com total protecção e apoio das autoridades.
A melhor forma de combater a auto-censura é lutar para que a justiça seja feita no caso do assassinato de Carlos Cardoso. Queremos que as autoridades moçambicanas continuem a fazer desta investigação uma prioridade e que investiguem todas as pistas e indícios, independentemente de quem possam atingir.
A delegção do CPJ deseja agradecer aos funcionários do Governo, das instituições do Estado e a todos os cidadãos que nos prestaram valiosas informações sobre a morte de Carlos Cardoso e a investigação em curso. O CPJ apresentará posteriormente um relatório detalhado sobre os resultados da sua própria investigação.
Queremos contudo expressar a nossa preocupação pelo clima de medo que também paira em torno da investigação. Por exemplo, uma das pessoas a entrevistar declinou o encontro alegando ter recebido ameaças de morte. Várias outras cancelaram os seus encontros à última hora. De novo, é importante que o Governo dê garantias ao público em geral, investigando todas as pistas através dos orgãos apropriados, garantindo segurança aqueles que cooperem com a investigação.
A delegação do CPJ é constituida por Clarence Page, membro do Conselho de Administração e colunista do Chicago Tribune; Joel Simon, Director Adjunto do Comité; Yves Sorokobi, coordenador do programa África; o jornalista sul-africano Philip Van Niekerk; o jornalista moçambicano Fernando Lima.
O CPJ é o organização independentimente e não proselitista sediada em Nova Iorque que investiga violações à liberdade de imprensa em mais de 130 país em todo o mundo.